Joaquim Levy, em palestra a ex-alunos da Universidade de Chicago, disse que no Brasil a maioria das pessoas não gosta de pagar impostos. Quer dizer, não foi isso que ele disse. Suas palavras foram outras: “a maioria das empresas não gosta de pagar impostos no Brasil”.
Como muitas de suas declarações, essa também teve que ser explicada depois. Pensei até que dessa feita o embrulho tivesse sido pelo fato de a palestra ter sido em inglês e mal traduzida, o que é perfeitamente possível. Mas fui ler no site do Ministério da Fazenda e, francamente, qualquer erro de tradução teria sido impossível, já que entre companies (empresas) e people (pessoas) qualquer semelhança não poderia ter sido outra coisa senão desleixo.
Discordo de quem estranha um ministro de Estado brasileiro falar em inglês em uma palestra realizada no Brasil. Se eu pudesse, escrevia e falava em inglês e justifico: conquanto nossa língua seja belíssima, ela é muito cheia de não-me-toques, ao passo que o inglês é mais direto e com muito menos palavras o cidadão pode dar à luz tudo o que pensa.
Voltemos aos impostos.
São Mateus era malquisto pelos contemporâneos por ser coletor de impostos. Os romanos eram os inimigos e as moedas tinham a efígie do imperador, motivo mais do que forte para acharem que Mateus era um pecador.
Acho que exagerei na volta ao passado. Chego um pouco mais perto da gente (aliás, outro motivo de crítica ao modo de falar do ministro Levy, além das frequentes explicações que tem que dar sobre o que falou, é seu hábito de substituir o ‘nós’ por ‘a gente’).
Retomo o fio: o ‘Independência ou Morte!’ americano foi o ‘No Taxation Without Representation’ que resultou na curiosa Boston Tea Party, que tão caro custou à Inglaterra. A festa macabra de resultados tão positivos aconteceu em 1773.
Do século 18 passo para a virada do século 19 para o 20. Um dos mais conceituados ministros da Suprema Corte americana foi Oliver Wendell Holmes Jr. Como lá não desperdiçam o conhecimento de um homem ainda lúcido, Holmes Jr foi membro da corte até morrer, aos 94 anos! E é dele a frase mais simpática aos impostos: ‘I like to pay taxes. With them I buy civilization’.
Nessa viagem a jato, chegamos ao ‘Tax Relief’ do presidente americano George W. Bush. Sua tese era: ‘menos impostos deixam mais dinheiro no bolso das famílias e encorajam o investimento e o consequente crescimento da economia’. O cara ganhou as eleições e não creio que seus eleitores fossem cidadãos que amavam pagar impostos…
Há um lugar, no entanto, onde certamente as pessoas e as empresas gostam de pagar impostos. A Noruega. Lá a efígie nas moedas não é a de um tirano, não há taxação sem representação, a vida comunitária é altamente civilizada e há muitos descontos na hora de pagar o Imposto de Renda: dos gastos com os deficientes físicos à poupança para a compra da casa própria até o que se gastou para ter quem cuide de suas crianças enquanto você trabalha…
Sei lá, mas acho que posso afirmar que na Noruega gostam de pagar impostos. Ou não?
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 3/4/2015.
Entào é hora de taxar as grandes fortunas?