O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, desembarca esta semana em Davos, na Suíça, com a tarefa de convencer a elite da economia mundial que o Brasil, agora, entrará nos eixos.
Missão difícil, quase impossível. Mas é imperativo reconhecer: a presidente Dilma Rousseff fez a parte dela. Sua anunciada ausência – prefere ir à posse do companheiro tri-eleito Evo Morales – não contaminará o plenário com o faz-de-conta. E poupará o ministro do vexame de ter de explicar as mentiras ditas por Dilma no mesmo fórum, um ano atrás.
Estreante em Davos em 2014, Dilma agradou a plateia que já percebera o tamanho da crise brasileira. Prometeu combater a inflação e abrir o país para investimentos privados. Garantiu que cumpriria a meta de superávit primário e foi veemente na defesa da responsabilidade fiscal. O tom realista, dando ideia de que a ficha tinha caído, conseguiu animar a seleta galeria. Foi até elogiada.
Durou pouco.
Ao invés de mais investimento, o Brasil e o mundo assistiram, atônitos, ao estouro do escândalo da Petrobras. Uma roubalheira bilionária, dentro e fora do país, lesando gente em todos os cantos do planeta.
A economia, que já se mostrava frágil e cambaleante, degringolou de vez no ano eleitoral. Seu governo fez todo tipo de estripulia para maquiar contas, gastou ainda muito mais, deixou a inflação bater no teto. A presidente encerrou o ano sendo obrigada a confessar a impossibilidade de gerar superávit, tendo de aprovar às pressas um projeto de lei autorizando o descumprimento de metas e a irresponsabilidade fiscal.
Dilma tem ainda mais para não querer passar perto de Davos.
A cidade suíça faz reviver lembranças nada agradáveis, como a de ser flagrada em uma “parada técnica” clandestina em Portugal quando seguia de Zurique para Cuba. Em Lisboa, teve de explicar o hotel de luxo e um jantar estrelado, sobre o qual ela afirmou – irritada – que cada um pagou com dinheiro do próprio bolso.
Assim sendo, o programa mais confortável para Dilma na data de Davos é mesmo ver Evo assumir a Presidência da Bolívia pela terceira vez consecutiva. Uma deferência e tanto. Mas menor do que os incansáveis e submissos gestos que o Brasil de Lula e Dilma fez para Evo.
O líder boliviano tem uma linha de crédito permanente, renovada a cada choramingo. Recebeu R$ 332 milhões do BNDES para construção da rodovia conhecida como “estrada da coca”, que facilita o escoamento da sempre promissora produção cocaleira. No ano passado, ganhou mais R$ 60 milhões para conserto de equipamentos de energia.
Da Petrobras, receberá um extra de US$ 434 milhões, fruto de um acordo de compra de gás. Isso depois de ter estatizado os ativos da companhia brasileira, em 2006.
De Davos, Dilma quer distância. De Evo, proximidade. Uma escolha que já custa e continuará custando muito caro ao Brasil.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 18/1/2015.