Tenho um irmão chamado Juarez, que tem um empregado chamado Nico.
Na fazenda São Bento, onde os dois moram, e onde o Nico nasceu e cresceu, de vez em quando acontece: depois de nove meses de prenhez, uma novilha tem a primeira cria.
Hora de dar-lhe um nome. Qualquer criança daqueles lados do Campo das Vertentes nasce sabendo que só a maternidade costuma dar nome às vacas.
Assim, enquanto bezerras e novilhas pastam e ruminam anônimas, as vacas têm os nomes escolhidos com cuidado, e as sugestões costumam ser bem-vindas e aceitas, ainda que a última palavra seja quase sempre a do dono.
Um dia, Juarez, dono de uma novilha recém-promovida a vaca, teve seus pensamentos interrompidos pelo Nico, dono de um jeito gago e sorridente de falar:
– O senhor já-já escolheu o nome da-da vaca, seu Juarez?
– Ainda estou pensando, Nico.
– O nome que o senhor escolher vai começar com H, não vai, seu Juarez?
– Por quê, Nico?
– Ah, seu Juarez, o senhor gosta muito de de H. Repara só os nomes das vacas daqui. Tem A Gaivota, A Galícia, A Garça, A Gardênia, A Galega, A Gaúcha, A Garrucha, A Gabiroba…
As crônicas escritas por Vivina de Assis Viana para o Estado de Minas, entre 1990 e 2000, estão sendo republicadas pelo site primeiroprograma.com.br, graças a um trabalho de garimpo feito por Leonel Prata, publicitário, jornalista, editor, roteirista e escritor, um dos autores do livro Damas de Ouro & Valetes Espada (MGuarnieri Editorial). Com a autorização de Vivina e de Leonel, estou aproveitando o trabalho dele e republicando também aqui os textos.