Acabamos de perder um brasileiro que se rebelava contra a Teoria de Darwin e argumentava, com um pregador de roupas na mão, que nem em cinco milhões de anos um macaco faria um objeto tão simples e tão útil. Ariano dizia que nem se a mãe do Papa lhe pedisse ele concordaria que descendemos dos macacos.
Também não creio na evolução como explicada por Darwin. Houve evolução, sem dúvida, mas com a mão de Deus orientando e guiando as diversas etapas.
No entanto, a guerra insana e infindável entre israelenses e palestinos, tema que desabona a humanidade, faz com que eu duvide de mim mesma: afinal, o ser humano tem inteligência superior a das bactérias, ou a dos macacos?
A crueldade cometida em nome da religião é brutal. É trilhões de vezes mais feroz e inexplicável que as lutas entre gangues mafiosas por dinheiro e outros trilhões de vezes mais bárbara do que as travadas por políticos em nome de mais poder.
Na quarta-feira, o Brasil foi um dos 29 países a votar a favor da resolução do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas por um imediato cessar-fogo entre os dois povos. Houve 17 abstenções e apenas um voto contra, dos EUA. Além do Japão, todos os países europeus presentes, incluindo França, Reino Unido e Alemanha, optaram pela abstenção.
Não creio que a paz naquela região venha tão cedo. Enquanto nenhum dos lados ceder, enquanto só souberem se acusar, a paz não virá e o sofrimento continuará. Já morreram 655 palestinos e 32 soldados e dois civis israelenses.
Quem será punido por essa matança desenfreada? Será que existe algum rabino ou imã que dirá, olhando dentro dos olhos de uma criança, porque ela está sofrendo tanto, porque está nesse inferno de fogo e lágrimas, em nome de qual Deus e onde estão escritas as palavras divinas que justificam esse sofrimento todo?
O Brasil fez o que estava ao seu alcance: apoiou a moção das Nações Unidas pelo cessar-fogo; chamou nosso embaixador e, que eu saiba, concordou com o bloqueio ao aeroporto de Tel Aviv, para evitar maiores tragédias. Por isso foi grosseiramente ofendido pela chancelaria israelense: “O relativismo moral por trás dessa posição faz do Brasil um parceiro diplomático irrelevante, que só cria problemas e não contribui para soluções. É uma demonstração infeliz do motivo pelo qual o Brasil, um gigante econômico e cultural, permanece um anão diplomático”.
E essa agora? Anão diplomático? O Brasil?
Curioso que nos governos Lula, sob a batutinha de Celso Amorim no Itamaraty, os beijinhos e abraços entre Lula, seu chanceler e os Ahmadinejá da vida, não provocaram um pio de Israel. Calava.
Mas agora que o Itamaraty voltou a demonstrar o brio que costumava ter, os israelenses não gostaram. Será que se acham perseguidos pelo Brasil? Não perceberam que a moção pelo cessar-fogo implica numa condenação aos crimes cometidos pelos dois lados?
E nós é que somos anões?
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 25/7/2014.
Somos anões ou chipanzés diplomaticos?