Hábito ou vício, há tempos a mentira é classificada como doença – mitomania ou pseudolalia, o transtorno da mentira. Não são raros os políticos que sofrem desse mal ou que são treinados sob a regência desses distúrbios. Quando têm charme, empatia e graça – caso do ex Lula –, as mentiras ditas podem virar troça, piada e até verdades, se repetidas com insistência. Para quem não tem essa ginga é difícil esticar as pernas da mentira. Dilma Rousseff enquadra-se aqui. Mente, mas não convence.
Lula é aquele que um dia diz que seus companheiros queridos traíram a ele e à nação no escândalo do Mensalão. No outro, escorraça os mesmos companheiros, agora presos – “não são de minha confiança”. Lança e relança Dilma à reeleição e incentiva o “volta Lula” em frases travessas, que, amanhã ou depois, vai usar a seu favor para ser ou não candidato. Segue à risca, certamente sem saber, o dito shakespeariano: “o diabo pode citar as Escrituras quando isso lhe convém”.
Instruída para agir como seu mestre, Dilma se atrapalha. Não por pudores quanto a mentir, mas por pura falta de jeito.
Além de falsear um doutorado que não concluiu, já chegou a dizer que, quando criança, ia ao Mineirão, com o pai, para ver o Galo jogar. Tão tonta que nem se tocou: o estádio foi inaugurado em 1965, dois anos após a morte de seu pai. Na época, a criança Dilma tinha 18 anos. Prova que a síndrome da mentira também pega desajeitados no ofício.
Dilma mente e continuará mentindo. Na terça-feira, alardeou o orgulho que tem dos investimentos que fez em saneamento, criticando os que a antecederam – não há quatro ou oito, mas há 15 anos. Tão longe da verdade quanto os jogos de futebol a que assistiu no Mineirão imaginário.
Os avanços em saneamento nessa década foram significativamente inferiores. Quem diz isso é o IBGE. Itamar Franco e FHC estenderam a coleta de esgoto em 20%; Lula e Dilma em 15,6%. Na água encanada os números são ainda mais acachapantes: o PT expandiu a rede em 5,5%, menos da metade dos 11,3% de Itamar-FHC.
O ludibrio também tem alicerçado os palanques. Na sexta-feira, Dilma lançou a obra do metrô de Curitiba. Pela terceira vez. Já tinha feito algo semelhante em 2013, com o repeteco do metrô de Porto Alegre. No mesmo ano reeditou, na cerimônia de 21 de Abril em Ouro Preto, o PAC das cidades históricas, uma tentativa de perturbar o adversário Aécio Neves. O tal PAC por duas vezes anunciado continua empacado. Há menos de um mês, reinaugurou uma adutora, inacabada, em Serra Talhada, Pernambuco, terra do ex-aliado e agora concorrente Eduardo Campos.
As pernas da mentira já foram mais musculosas e não são tão elásticas. Estão esgarçadas e, hora dessas, arrebentam.
https://www.youtube.com/watch?v=djGlPaJX5lc&feature=player_embedded
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 11/5/2014.
Grandes mentirosos! Outros falam verdades mas pedem que as esqueçam.
Pois é, aí é que está a comprovação de que o Goebbels tinha razão: de tanto repetir uma mentira, ela passa a ser tida como verdade. FHC jamais disse a frase “Esqueçam tudo o que eu escrevi”. Mas os petistas, e os petistas que jamais se arrependeram de terem sido petistas, como você, Miltinho, passam a acreditar na mentira tantas vezes repetidas por vocês mesmos.
Mas o que é absolutamente sacal, insuportável, é essa capacidade de todos vocês, petistas e ex-petistas, uns mais envergonhados, outros menos menos, de terem um único argumento na vida: ah, sim, nós erramos, mas vocês também erraram! Nós nos unimos ao Sarney, mas vocês também! Nós bajulamos o Renan hoje, até por que em grande parte dependemos dele para nos livrar da CPI da PTbrás, mas o Renan foi ministro FHC. Nós roubamos, mas vocês também roubaram!
É fantástico. Estamos em 2014. FHC deixou o governo em 2002 – mas tudo o que vocês conseguem dizer é: ah, mas o FHC privatizou, o FHC disse que era para esquecer o que ele tinha escrito, o FHC teve Renan como ministro!
Vocês não conseguem se libertar do FHC! É impressionante!
Terapiazinha aí, talvez?
Coberto de razão meu caro Sérgio, todos citados são farinha do mesmo saco.
Quanto ao FHC é impossível esquecê-lo, é a melhor cabeça da oposição, vale a pena ler o que ele escreveu e o que ainda escreve.
Em tempo: Não citei FHC, textualmente.
Com a palavra o próprio Fernando Henrique Cardoso:
“O que eu disse foi o seguinte, se é que eu me lembro, se é que se refere a isso. Eu estava tentando explicar ao rapaz de onde é que alguém poderia ter tirado isso. Eu disse: eu estava em uma reunião, logo que fui nomeado ministro da Fazenda, eu creio… da Gazeta Mercantil, estava presente o [jurista] Celso Lafer, que, como eu, é intelectual e escreveu livros. Alguém perguntou alguma coisa e eu disse ao Celso: “Olha, Celso, a gente escreveu tanta coisa, então é cobrado sempre pelo que escreveu”. Essa foi a frase. Daí saiu uma versão de terceira mão, e agora a imprensa, me desculpe, tem o hábito de botar entre aspas, [e] ouviram de mim. Aspas, a gente põe quando cita por escrito. Não ouviram, [mas a imprensa] põe aspas. E você vai fazer o quê? Nada.”
A culpa é da imprensa! O FHC tem opinião sobre e continua escrevendo:!
“Temos hoje uma arquitetura democrática, mas não temos a alma. É uma ideia que ainda está sendo construída. É preciso apoiar mecanismos de regulação que permitam a diversidade”.
Entre os argumentos de FHC, estão o de que “não há como regular adequadamente a democracia sem regular adequadamente os meios de comunicação” e que “os meios de comunicação no Brasil não trazem o outro lado. Isso não se dá por pressão de governo, mas por uma complexidade de nossa cultura institucional”.
Sobre o mentiroso Lula, escreveu em 1982:
“O PT não tem condições sociológicas para ganhar, porque ele é muito segmentado,
fragmentado e encurralado em setores limitados da população. Isso não é possível. Não porque o Lula seja operário, ao contrário, ele é uma pessoa com uma vivacidade fora de série, eu o conheço, sou seu amigo. É certo que ele não sabe muitas coisas. Mas quem é que sabe tudo? Será que o governador atual sabe alguma coisa? Não creio que saiba. Acho que o Lula sabe mais que ele. Não é por isso que o Lula não pode ser governador. Como pessoa, ele pode ser governador de São Paulo, tem acuidade suficiente para isso. Ele não pode por outras razões, não representa uma força social capaz de governar São Paulo. Como ele não representa essa força social embananaria tudo. É justamente por isso que não dá credibilidade, e ele terá menos votos do que poderia ter. Se o Lula fosse candidato pelo PMDB, ele estava eleito governador de São Paulo. E governaria o Estado muito bem”.
FHC antes de político é um pensador, e como tal tem uma real importância. Incluo o livro de sua autoria, Perspectivas, Editora Paz e Terra, 1983 na minha estante. O que ele escreveu nunca será esquecido na história deste pais.