Francisco tem passado mensagens profundas com palavras simples, palavras do dia a dia, e nisso reside sua força. Será que alguém imagina a possibilidade de os recados claros do Papa não entrarem em nossas mentes?
Na saudação em Varginha o jovem escolhido para cumprimentar o Papa disse verdades que incomodam, certamente incomodam muito. Ele contou ao Papa sobre a agitação incomum nas ruas e vielas de seu bairro, a azáfama das autoridades em armar um cenário que, talvez, iludisse o Papa…
Pois sim. Francisco, quando Bergoglio, tinha o hábito de visitar comunidades carentes na periferia de Buenos Aires e ir sem avisar. Ele sabe reconhecer o que foi feito ontem daquilo que faz parte da realidade do lugar que visita.
Pastor, que prega a justiça e a misericórdia, ele sabe distinguir o certo do errado: “Nenhum esforço de pacificação será duradouro, não haverá harmonia e felicidade para uma sociedade que ignora, que deixa à margem, que abandona na periferia parte de si mesma”.
Já vejo analistas da fala do Papa a dizer que aí ele criticou as UPPs. Não compreendi assim: ele sabe que se não fosse a política de pacificação, ele não poderia ter entrado nessa favela que até pouco era conhecida como Faixa de Gaza.
O que ele fez foi entusiasmar os jovens a continuar a exigir o que lhes é devido, pois está convicto de que se os jovens tiverem a estrutura que hoje lhes falta, os mercadores da morte não terão vez. Lembrou os pilares fundamentais de uma nação: Educação da mente e do espírito; Saúde, essencial; Segurança (mas “a violência só pode ser vencida a partir da mudança do coração humano”); e a base de tudo: a Família.
(Papa Francisco quando jovem.)
Aos peregrinos, em Varginha ou na Catedral, em línguas diferentes, ele disse a mesma coisa, “hagan lío”. Façam barulho, movimentem-se, vão às ruas e peçam, peçam, peçam. “Os jovens possuem uma sensibilidade especial frente às injustiças, mas muitas vezes se desiludem com notícias que falam de corrupção, com pessoas que, em vez de buscar o bem comum, procuram seu próprio beneficio”. Pediu-lhes que não desanimassem e lhes garantiu que “a realidade pode mudar, o homem pode mudar”.
Às autoridades o Papa pediu o essencial numa só palavra: Solidariedade. “Trabalhem por um mundo mais justo. (…) Não é a cultura do egoísmo, do individualismo, que regula nossa sociedade. Mas sim a cultura da solidariedade”.
Lembrou algo fundamental: o homem tem fome de dignidade!
Ao usar, no discurso em Varginha, as palavras que sempre ouvimos em nossas casas e até no nosso cancioneiro, “bota mais água no feijão”; ao sorrir o mesmo sorriso que tinha quando menino para as crianças entusiasmadas com sua presença; ao pedir que rezemos por ele, Francisco nos cativou para sempre.
Cativou os jovens e os idosos, as duas pontas do presente, segundo ele. Os que não podem ser descartados por ser o passado que forma o futuro.
Obrigada, Papa Francisco.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 26/7/2013.
Francisco nos fez recordar D.Elder, nosso bispo vermelho. Suas palavras e seu destemor são bastante parecidos.
Água no feijão é a solidariedade presente nas favelas, nos bairros da periferia nas camadas nais baixas da sociedade.
Espero que Francisco volte ao Vaticano, sem que nenhum louco ouse contra sua segurança. Ele e D.Elder nunca tiveram medo das ruas, do povo. Representam uma igreja próxima dos teólogos da libertação, perseguidos e excomungados pelo Vaticano.
Com o novo papa Francisco já se observam mudanças na celebração das missas, nas pastorais,aproximando os fiéis e propiciando uma relação ecumênica na sociedade.
Vida longa ao Papa.
Assim como João Paulo II e Bento XVI, ele nunca simpatizou com a Teologia da Libertação, mescla de catolicismo e engajamento político a favor dos perseguidos, algo visto pelos conservadores como um movimento marxista. No entanto, ao ser eleito, Francisco fez um gesto simbólico: beatificou Oscar Romero, bispo salvadorenho assassinado por extremistas de direita em 1980 e considerado mártir da Teologia da Libertação. Desde 2005, Bento XVI havia proibido sua beatificação.
Francisco Bergoglio hoje surge em cena como um radical. O primeiro papa não europeu desde o sírio Gregório III, no século VIII, quer criar uma “Igreja pobre para os pobres”.
Desafia assim os donos do poder em um mundo globalizante dominado pelas oligarquias financeiras e pela tecnologia.
Francisco usa a simplificação como um desafio cultural para transmitir uma linguagem mais radical.
Ao ser eleito, disse: “Foram buscar um papa no fim do mundo”.
A mensagem do pontífice, , foi esta:
Para entender Cristo é preciso adentrar a pobreza, quiçá no fim do mundo, do ponto de vista social e econômico.
O Evangelho nasce desse patamar fundamental: a pobreza.
Segundo essa lógica, o papa vai à periferia e, como todo jesuíta, é um missionário.
A América Latina gosta de discursos… gosta de teóricos que falam de melhorias sociais apenas da boca pra fora… Quando o Allende queria pôr em prática o que era apenas discurso, os mesmos que diziam “é preciso mudar” convocam a CIA para derrubar o cara. Triste continente.