Títulos milagrosos

Quando publiquei o primeiro livro, em 1977, sonhava com ele nas prateleiras das livrarias. Só entrar e pedir, pensava. O vendedor, solícito, ainda diria que o livro vendia bem, devia ser bom.

O tempo, que costuma encarregar-se de tudo, cumpriu seu papel. Foi me mostrando, devagar e sempre, que, por mais que se queira, sonhos não passam de sonhos.

Treze anos e dois filhos mais tarde, devo ter criado um pouco de juízo aprendendo a cultivar a solidão literária.

Entro em livrarias sem nem lembrar que também “cometo” meus livrinhos, como diria o Vinícius.

Assim, pensei estar vivendo um milagre quando, certa tarde, no Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, encontrei um de meus livros entre Iacoccas e Sheldons.

 “O que será que ele está fazendo aqui?”, pensei.

O susto foi tão grande que quase o comprei. Depois, tentando readquirir o bom-senso mineiro, corrigi a pergunta: “Por que será que ele está aqui?”

Nem precisei pensar muito. Era o título, pô! O mundo é pra ser voado não é um bom título para livrarias de aeroportos? Quem imaginaria que aquelas linhas contavam a história de uma família que se mudava de Belo Horizonte pra S. Paulo? Mais simples e mais fácil pensar em uma obra técnica – útil, portanto – sobre os segredos da aviação.

Há poucos dias, andando pela Avenida Paulista, outro milagre. Numa das bancas, O mistério do livro sem mistério, da escritora mineira Cristina Agostinho.

 “O que será que será que esse livro da Cristina, dirigido aos adolescentes, está fazendo aqui?”, pensei.

O susto foi tão grande que resolvi comprá-lo. Enquanto pagava, o bom-senso mineiro foi voltando e corrigi a pergunta: “Por que será que ele veio parar aqui?”   

Nem precisei pensar muito. O mistério do livro sem mistério encontrava-se, sem nenhum mistério, confortavelmente instalado entre as obras de Agatha Christie, Hitchcock e Simenon, autores frequentemente lidos com a respiração suspensa e o coração aos pulos.

 As crônicas escritas por Vivina de Assis Viana para o Estado de Minas, entre 1990 e 2000, estão sendo republicadas pelo site primeiroprograma.com.br, graças a um trabalho de garimpo feito por Leonel Prata, publicitário, jornalista, editor, roteirista e escritor, um dos autores do livro Damas de Ouro & Valetes Espada (MGuarnieri Editorial). Com a autorização de Vivina e de Leonel, estou aproveitando o trabalho dele e republicando também aqui os textos.

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