Conferi os horários e tenho certeza: a culpa do tresloucado ato foi do Chupetinha. Ele tinha acabado de fazer sua visitinha quando o chefe atacou com ferro de solda quente o adereço que rodeia sua canela.
Como a case — palavra que designa a caixa eletrônica do malfadado objeto — resistiu bravamente ao ataque, o chefe tentou de novo e de novo e repetidas vezes, até que à 00h08 do dia 22/11/2025 a caixinha abriu solenemente o berro no meio da noite.
A ideia só pode ter saído da cabeça do Chupetinha — aquele moleque! —, pois me recuso a crer que um capitão reformado do Exército Nacional, nascido e criado na terra dos bananais, não saiba o que é uma casca dessa fruta no meio do caminho.
Foi o Chupetinha, foi ele sim, que jogou a casca de banana, assim como quem não quer nada. “Bota fogo nesse troço aí”, bastou dizer, e o chefe, que não pode ouvir falar de fogo que vai atrás, caiu de pau em cima da caixinha.
“Mas, seu Jair, como é que o senhor fez isso?”, perguntou, incrédula, a simpática e delicada diretora-adjunta da Secretaria de Administração Penitenciária, passando as mãos bem tratadas e as unhas bonitas e muito bem feitas sobre o coitado do objeto em que se pendura a vida do apenado e a segurança de todos nós.
Ela estava mesmo condoída e chocada de verdade. E o que responde o grosseirão? Que meteu o ferro na coisa aí! Ela entende mas não compreende e refaz a pergunta, delicadamente: “Como assim, ferro? Foi com ferro de passar que o sr. fez isso?”
Não, responde o idiota, foi com ferro de soldar.
De fato, a afável policial constata que a pobre caixinha está por demais esburacada, um furo em cima do outro, denotando fúria e tenacidade por parte do criminoso. E mostra para todos nós, pobres mortais, e por todos os ângulos possíveis, a prova do crime.
Mas seu Jair, por que é que o sr. fez uma coisa dessas? — ela pergunta com paciência infinita e uma gentileza, uma doçura e uma dor que só pode vir de alma muito especial.
Curiosidade — responde o idiota que já foi fardado.
Fosse na ditadura de 64, levava uma bordoada em cada orelha para contar a verdade. Mas estamos numa democracia, graças a Deus, e temos almas amorosas a zelar por nossa segurança.
Infelizmente, o vídeo pára por aí. Fiquei apaixonado pela policial, como se nota, e dormi em berço esplêndido. Não que minha mulher não seja mais a minha paixão, mas essa me conquistou por seus modos e de tal modo que até por vosso marido eu sentiria um certo quebranto…
Nelson Merlin é jornalista aposentado e, em todas as horas, perdidamente apaixonado pela poesia adorável de Mário Quintana.
23/11/2025

