O gado e a mula

O gado que foi para a frente do Masp no domingo, em São Paulo, capitaneado pelo Malafaia e o Inominável inelegível, cometeu um erro infantil: em vez de adular o presidente da Câmara, Hugo Motta — de quem dependem para levar adiante o projeto de impunidade aos golpistas de 8/1 —, desceu o cacete nele. 

Não satisfeitos, desceu o cacete também no STF, de quem o Chefe do bando depende para não ser levado ao xilindró ainda este ano. 

Outra infantilidade foi dizer que um bastão de batom é sua arma contra a ditadura da toga, que tanto odeiam por punir, como determina a lei, os excessos e ilegalidades do bando e seus chefes. Poderia ser um bastão de beisebol, uma arminha com os dedos, qualquer coisa, mas um batom? 

A mulher que empunhou o artefato para pichar a estátua da Justiça em frente ao STF diz que não sabia o que estava fazendo. Nem naquela hora, nem durante as invasões e quebradeiras. Fê-lo porque qui-lo, diria o Jânio Quadros, ou simplesmente porque quis, como também disse Jânio, certa vez, corrigindo o anônimo detrator de seu português gongórico, mas absolutamente correto. 

Ora, se nem ela sabia o que estava fazendo com um batom na mão, salta aos olhos e à mente que o mesmo artefato não há de servir para a turba ignara derrubar o STF. Prefiro o cabo, o soldado e o jipinho, conforme a memorável narrativa do filho 03, também conhecido como O Bananinha, agora em fuga nos EUA. 

Noto, porém, a mudança de hábitos. Se largaram pra lá as arminhas de dedinho, o cabo, o soldado e o jipinho, além dos xingamentos pronunciados na mesma avenida tempos atrás contra o STF e o Xandão, tudo em troca de um feminino batom de salão de beleza, é porque algo está rolando na linha de frente da oposição. 

Sempre tão machões, feminofóbicos e homofóbicos, agora parecem encantados com os poderes de um sensual batom vermelho. Fico imaginando o Chefe e o Malafaia se pintando em cima do trio elétrico. Por que não o fizeram? Teriam ganhado as manchetes do Brasil e do mundo! 

Se não o fizeram é porque não o quiseram? Ou será que cogitaram — tal como o Chefe diz ter feito, candidamente, na tramóia do golpe? 

Penso que se tivessem ido às vias de fato e montado um camarim de teatro em cima do trio elétrico, do tipo Gaiola das Loucas, e dele saíssem com os beiços e as caras borradas de vermelho, teriam sido autênticos e, por consequência, fariam mais sucesso que a leitura, pelo Chefe, do papel escrito em inglês, que aposto como ninguém no mundo entendeu. 

Mas, deixando isso pra lá, o que notei com surpresa no domingo foi o sumiço dos bonezinhos vermelhos pró-Trump do coco dos bolsonaristas. Só vi um carregando bandeira dos EUA e outro a de Israel. Mas pareciam não saber, como a cabeleireira do batom, o que estavam fazendo. 

No dia anterior, multidões monumentais de americanos foram às ruas das capitais dos 50 estados mais Washington DC protestar contra as sandices do presidente eleito no ano passado e que em menos de três meses após sua posse, em 20/1, espalhou o caos pelo país e o mundo. 

Por que o sumiço dos bonezinhos? Outro dia o incrível governador de São Paulo sustentava um, todo sorridente e orgulhoso, no alto de seu coco. Deixou-o em casa neste domingo. 

Também, pudera! Em apenas três dias de caos, mister Donald fez um prejuízo de US$ 10 trilhões de dólares nas bolsas do mundo inteiro. Nos EUA foram US$ 3 trilhões. 

Nos EUA, as cerca de cem milhões de famílias que compõem a sociedade local jogam suas economias na Bolsa de Valores. Jogar na Bolsa é um esporte nacional. 

Vai daí, podemos concluir numa pesquisa rápida e sem margem de erro que os americanos estão pela tampa com o mister. Inclusive os billionaires, por verem as ações de suas megaempresas derreterem como sorvete debaixo de sol escaldante. O verão ainda não chegou por lá, mas há de chegar. 

Para concluir, penso que a bandeira da impunidade, por um lado,  e a bandeira do tarifaço do mister,  pelo outro, tornaram-se fardos pesados demais até para bolsonaristas carregarem. 

A primeira porque reúne gatos pingados nas avenidas: 1 milésimo por cento da população do Rio e a mesma coisa em SP — é só fazer a continha que se aprende no colégio. E como se nada fossem, Alcolumbre e Motta e toda a torcida do Corinthians e do Flamengo (conforme as pesquisas, 59% dos entrevistados, o que acho pouco, aliás) são contra a lei da impunidade. 

A segunda porque se tem alguém que gosta de perder dinheiro, ou é louco ou parente da mula sem cabeça. 

Nelson Merlin é jornalista aposentado e ainda mais boquiaberto que nos últimos artigos. 

8/4/2025

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