A nova ordem mundial que, dizem, instala-se hoje pela voz do novo Napoleão de hospício a sentar numa cadeira presidencial, começa pela tomada do canal dos panamenhos, a tomada do Canadá dos canadenses e a tomada da Groenlândia dos dinamarqueses. Tal como fizeram no século 19, quando tomaram dos mexicanos os territórios que representam, a partir de então, quase todo o sul e o sudoeste dos Estados Unidos (Texas, Novo México, Arizona, Califórnia y otras cositas más).
Naquela época, tomaram pela invasão e pela guerra. Algumas vezes em dólar, comprando da Espanha (a Flórida) e da França (a Louisiana). Se o Napoleão americano fizer do mesmo jeito agora, pela força, vai arrumar uma guerra com a OTAN (da qual ele faz parte com a Dinamarca, o Canadá e toda a Europa, com o acréscimo de países da extinta URSS, que outro Napoleão também quer great again). Vai ser um forrobodó dos diabos.
Também vai arrumar uma guerra com a China, que há já alguns anos foi contratada pelo Panamá para dar uma garibada tecnológica no velho canal construído (pelos americanos) no começo do século XX. Como se sabe, o vale do silício é pinto perto do que os chineses têm hoje em conhecimento e tecnologia 5.0 no seu vasto país — segundo maior PIB do mundo e responsável por quase 30% do comércio mundial.
Além da tomada de territórios, o Napoleão americano inaugura sua nova era com a ameaça de uma guerra comercial, sobretaxando em 25% as importações que não lhe agradarem e em 100% as que vierem de países que ousarem escantear o dólar de suas transações comerciais — como os do Brics, que não pára de crescer e agora ganhou a Nigéria, rica em ouro, diamantes e petróleo.
Mesmo que o truculento recém eleito pela maioria ignara da grande nação do norte cumpra meia palavra do que diz, a inflação por lá deve explodir. Mas pelo menos um dos 17 bilionários de seu gabinete já disse que não será bem assim. Afinal, business is business. Vai ser tudo muito gradual. O que me leva a crer que a tal guerra comercial não será mais que um trump (um pum, em inglês) do Napoleão quase octogenário.
Outro pilar da nova ordem é a deportação em massa de ilegais. A maioria (60%) dos gringos é a favor, segundo pesquisa que acabou de sair. São loucos! Quem vai botar a mão na massa para reconstruir Los Angeles e os arredores devastados pelos incêndios do aquecimento global? Os brancos milionários de MalIibu? De Palisades? De Santa Bárbara? Ou as atrizes de Hollywood?
Pelas minhas contas, até a semana retrasada a destruição equivalia a 10% da área do município de São Paulo, e o fogo continuou lambendo tudo. As casas e mansões são facilmente inflamáveis: em vez de paredes de alvenaria e lajes de concreto armado, foram construídas com madeira e placas de gesso recheadas de papelão e espuma de poliuretano. Tudo muito leve e barato. Mas um fogaréu devora isso em minutos.
E para reconstruir? Para reconstruir a área devastada serão necessários dezenas, talvez centenas, de milhares de mexicanos acostumados a pegar na enxada e no martelo.
Meu modesto conselho ao protoNapoleão que toma posse hoje é recolher os canhões e contratar mexicanos a rodo. Aos que já estão lá basta convocar e dar-lhes o green card. Aos que estão na fronteira basta abrir os portões e dar-lhes boas vindas compañeros.
Hasta la vista, mister!
Nelson Merlin é jornalista aposentado e pragmático.
20/1/2025