Vejam, aquele avião que fez o Lula ficar dando voltinhas por cinco horas, para pousar na mesma pista de onde havia decolado, não é um esquife voador. Esquife, para quem não lembra, ou não sabe, é caixão de defunto.
Os jornalistas dos antigamentes chamavam de esquife voador velhos e barulhentos aviões, um tanto comuns em viagens pelo interior do País. É verdade que nenhum avião decola sem passar pelas exigências do NOTAM, um conjunto de rigorosas normas de segurança (no caso de Lula houve um imprevisto em uma turbina).
No entanto, há bom tempo, este narrador e o repórter fotográfico Alfredo Rizzutti embarcaram em um bimotor de porte médio, para viajar a Florianópolis. Na cidade catarinense de Tubarão, a 260 quilômetros da capital, havia ocorrido uma enchente de grandes proporções.
O bimotor nos aguardava no Campo de Marte, que fica ao lado do Anhembi. Embarcamos, e logo ele iniciou a corrida para a decolagem. De repente, começou a chacoalhar violentamente, parecendo que ia se desintegrar. O piloto cortou os motores e assim paramos a um nadinha de acabar a pista, que dá para uma avenida. Aquele sim era um esquife voador.
O jornal alugou outro avião, do mesmo porte. Com ele chegamos a Florianópolis, e pegamos carona em um helicóptero de salvamento da FAB, que partiu para Tubarão.
Nas pequenas aeronaves de cinco lugares, como os Cessnas e os Pipers, que decolam e pousam em pequenas pistas (e, em lugares ermos, são a salvação em termos de transporte rápido), o problema podia ser pilotos metidos a engraçados.
Em viagem para uma fazenda em Mato Grosso, o passageiro (que vos escreve), sentado ao lado do piloto, vê, em pleno vôo, a hélice parar. Então, o sujeito faz um pequeno suspense, depois mostra uma fazenda lá embaixo, que era o nosso destino… E liga o avião, que havia desligado. Sabia que, se por alguma razão o motor não pegasse, a nossa posição nos permitiria descer em estol, ou seja, planando.
Outro, o famoso Botinha, em um Cessna, correu pela pista de terra de um garimpo, no norte do Mato Grosso, mas não decolou. Embicou o avião para o alto e subiu, subiu. Lá de cima, mergulhou de volta para a pista, o que fez o coração deste passageiro quase sair pela boca. Era só uma gracinha… Perto do chão nivelou e aí sim seguimos viagem.
Esta crônica foi originalmente publicada no blog Vivendo e Aprendendo, em 24/10/2024.