Para quem mandou invadir o Capitólio e, com isso, melar a posse de seu adversário na presidência do país, melar o comércio internacional é o de menos. Só que se, por mais incrível que pareça, o primeiro ato não teve nenhuma consequência judicial para ele, o segundo levantou contra si um enxame de abelhas furiosas que estavam perdendo, de imediato, fortunas bilionárias nas Bolsas de Valores e no mercado de títulos da dívida dos EUA.
Aí ficou sério, seríssimo! O homem correu para trás com a velocidade de um cometa. Em tempo recorde desfez as tarifas escorchantes que havia acabado de decretar, reduzindo-as a 10% para todos — menos a China, desde sempre o alvo que realmente importa para ele e os seus.
Não que os 10% sejam uma mixaria. Num sistema ultracompetitivo como o capitalista, qualquer meio por cento faz diferença. Os 10% são particularmente cruéis para países paupérrimos, como Lesoto e Madagascar, na África. Mas o homem nem balança a cabeça para isso. Business is business.
Essa é a linguagem que ele entende bem, desde os tempos em que não passava de um picareta tentando a sorte no mercado imobiliário.
Sabendo disso, a China acaba de disparar um míssil devastador no coração de um business que é vital para os EUA. Com sua invejável fleugma oriental, Xi Jinping baixou uma ordem a todas as empresas aéreas chinesas para que não comprem mais aviões da Boeing. Mesmo os de segunda mão. Mesmo os que já estavam contratados, agora suspensos. Mesmo os que estavam apenas programados, agora riscados do mapa.
O míssil não acerta só nos aviões. A Boeing fabrica para o governo dos EUA componentes essenciais para os aviões de guerra produzidos pelos fabricantes de equipamentos bélico. Toda a indústria bélica americana será atingida, indiretamente, pelo míssil chinês ao deixar a Boeing à míngua.
Os chineses estão entre os povos que inventaram o xadrez quase três mil anos atrás. Parece que junto com a velha Índia e a velha Pérsia. É bom não se meter a besta com eles.
Nelson Merlin é jornalista aposentado e impressionado com a calma e a gentileza de Xi Jinping.