Memórias que o tempo não apaga

Naquele tempo, este que vos escreve entrava na sede do Corínthians, no Parque São Jorge, caminhava até o Rio Tietê e mergulhava na “piscina”. Para ser mais preciso, no cocho. Um cercado de madeira, vazado, destinado aos banhistas, por onde passavam as águas do rio. E a Marginal Tietê? Não existia.

O estádio de futebol era muito bom. Incontáveis finais de campeonato foram disputadas nele. Nesses dias, os bondes subiam a Rua São Jorge e ficavam à espera da torcida. No entanto, quando o time treinava, os portões do estádio eram fechados. Não se queria ter olheiros por perto. Mas quem se importaria se um menino penetrasse ali, e se sentasse na arquibancada?

Vejo Luizinho, memorável atacante, Cláudio, Carbone, Baltazar, o goleiro Gilmar… Eis que um deles comete falta. Luizinho vai cobrar. Corre para a bola, todos se agitam, e ele… senta na bola! Grande gozador…

Uma atração do clube eram os barcos. A gente podia pegar uma catraia, pequena embarcação, e começar a remar. Mas tinha que ser contra a correnteza, rio acima. Maneira de prevenir que alguém descesse o rio, se cansasse e não conseguisse voltar.

Isto tudo terminou quando uma faixa de asfalto – a Marginal – separou o Corinthians das águas do Tietê. Essa nova fase trouxe três grandes piscinas para o clube. Uma de pouca a média profundidade, outra profunda e comprida e terceira, a mais funda de todas, com três andares de onde se podia saltar.

Na segunda, Yara, irmã deste depoente, disputou competições e ganhou medalhas. E outra frequentadora, por nome Lilian Bruno? Era da nossa turminha do Parque São Jorge, cinco moças e cinco rapazes que moravam na mesma rua, ou próxima. Mas Lilian não queria nada além do desfrute. Como, aliás, era o caso deste narrador.

A turminha da rua promovia bailes no belo quintal da casa do Sérgio Marques. Na vitrola, as “bolachas pretas”, os discos, ofereciam seu cardápio. Às vezes, quando este pé de chumbo (dançava mal) comandava o repertório, não por acaso a música mais tocada era “Moonlight Serenade”, de Glenn Miller.

Em 1954, quando surgiu o Parque Ibirapuera, a turma logo tratou se visitá-lo. Os rapazes de terno e gravata, naturalmente…

Mas havia mais. Em certo momento, chega a notícia de que Bill Haley e Seus Cometas, consagrado conjunto vocal americano, vai se apresentar no Teatro Paramount, no centro. No dia da aprazado, lá estão cinco engravatados comprando seus ingressos.

Era praxe que antes de artistas estrangeiros, uma atração nacional se apresentasse. Assim, ainda com as cortinas fechadas, a plateia se encanta. A grande Ângela Maria começa a cantar. Abrem-se as cortinas e aparece a figura de Willian Fourneaut, um imitador!

Esta crônica foi originalmente publicada no blog Vivendo e Aprendendo, em 11/4/2025. 

2 Comentários para “Memórias que o tempo não apaga”

  1. Muito interessante. Conheci São Paulo em 1954, mas andei somente no centro e no Ibirapuera, que estava sendo inaugurado. Que delícia as lembranças do menino! Ele deve estar com seus 80 e tantos, né?

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