Mais umas do Napoleão

Definitely, o Napoleão do Norte não está dando sorte em grande parte de seus decretos executivos — muitos sob a mira da Justiça e vários já bloqueados judicialmente — e suas ações diplomáticas, digamos, em matéria de política externa.

Há pouco levou pau do mundo inteiro por sua idéia de jerico (que me perdoem esses  simpáticos animais) de expulsar os palestinos para o Egito e a Jordânia e fazer da Faixa de Gaza propriedade avançada dos EUA para um grande empreendimento imobiliário. 

Falou assim, na lata, ao primeiro-ministro de Israel em sua visita de beija-mão a Washington. Não é que até o Netanyahu ficou sem jeito? Não sabia o que dizer e, na falta de algo melhor, abriu um sorriso de espanto. 

É que o Napoleão do Norte, como se sabe, enriqueceu como corretor de imóveis e está acostumado a vender gato por lebre aos seus clientes. Que me perdoem os corretores corretos, mas esse é de matar. Não só vende gato por lebre, como capivara por elefante. 

Já quis fazer campo de golfe, resort e restaurante num lugar paradisíaco da Coréia do Norte, ocupado por instalações bélicas. Foi na visita que fez ao país asiático em seu primeiro mandato. Ao seu lado, o Kim Jong-un olhou pra ele desconfiado, deu um sorriso sem graça e seguiu em frente. Nunca mais o Napoleão falou disso. 

A família do magnata também tem resorts e campos de golfe espalhados pelo Oriente Médio e a península arábica. Por que não mais um? 

A idéia vem na sequência da compra da Groenlândia, da anexação do Canadá e da retomada do canal do Panamá — entregue aos panamenhos por Jimmy Cárter na década de 70. Como não teve nenhum sucesso nas três maluquices, adiando-as, voltou as baterias para Gaza. 

Qual é a dele agora? Evacuar o território, remover os escombros, terraplanar toda a área, deixar tudo bonitinho e construir ali uma riviera das arábias. Se ainda fosse para presentear os palestinos por “alguma coisa” que fizeram de errado com eles, vá lá. Mas o paraíso não é para eles. É para os turistas! Os palestinos passariam a viver em outros lugares, a serem cedidos por seus vizinhos em nome dos bons negócios. E ficariam chupando o dedo, apreciando de longe a Faixa de Gaza, sua terra natal, reflorescer. 

E os lucros da tal riviera iriam para quem? Para os bolsos do Napoleão, homessa, que estão precisando de um reforço depois de pagar (se é que pagou) as multas quase bilionárias em diversos processos movidos contra ele nos EUA. Fora que os EUA também precisam de uns cobres para, entre uma coisa e outra, fechar o rombo nas suas contas, que passam dos US$ 30 trilhões no vermelho. Maior que o PIB deles (27 tri). O Napoleão quer caixa. 

A reação do mundo caiu como um raio sobre a Casa Branca. Após 24 horas acachapados, os porta-vozes passaram a cacarejar versões e justificativas desencontradas sobre a genial idéia do chefe. Nos primeiros momentos, Netanyahu correu a dizer, após sorrisos amarelos, que ele não tinha nada a ver com aquilo, que Israel tem outras idéias para a Faixa de Gaza — sabe lá se Jeová quais. Mas 24 horas depois de ouvir, embasbacado, o lunático ao seu lado, e de volta ao seu país, onde a extrema direita bateu palmas, achou a idéia genial, sensacional. Estranhamente, faz uma semana que não se fala mais nisso por lá. 

Ridículo, despropósito e roubo de terras foi o que mais se ouviu de todas as partes do mundo. Nem a Arábia Saudita, tradicional sabujo dos EUA, poupou o Napoleão, afirmando que a paz na região só poderá vir com a constituição de um Estado palestino na Faixa de Gaza. 

Tanto churrio vindo do presidente do país mais rico e, militarmente, um dos mais fortes do planeta (há muito que perdeu a hegemonia) é algo preocupante para a paz e a estabilidade do mundo, constantemente ameaçadas por extremistas e, agora, pelo extremismo supremacista do próprio presidente dos EUA. 

Em matéria de insanidades, pensei que essa seria a última. Mas não! Ele agora suspendeu a lei que desde 1977, 48 anos atrás, proíbe as empresas norte-americanas de subornar autoridades nos países em que atuam.

    Em sua justificativa, disse que a lei atrapalha os negócios! Agora, sim, o Napoleão do Norte desbanca o Kid Vigarista na Corrida Maluca.

Nelson Merlin é jornalista aposentado e ainda mais estupefato que dias atrás. 

12/2/2025

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