Lidiane lançou seu livro

Em 2013, Lidiane, uma leitora voraz, que desde a pré-adolescência lia um livro atrás do outro, sem parar, voltou a estudar. Havia deixado a escola, como tantas, tantas, tantas brasileiras, ao ter filho ainda jovem demais, com apenas 18 anos. Quando o primogênito, Luiz, estava com uns 12 anos, e a segunda filha, Izabella, com uns 5 ou 6, foi à luta.   

Em 2018, foi lançado um livrinho chamado Crianças Contam Nordeste, uma iniciativa da professora Lidiane, então com 37 anos. Ela havia incentivado seus alunos do terceiro ano da Escola Estadual Gonçalvez Ferreira da Silva, de Itaquaquecetuba, cidade periférica da Grande São Paulo, a escrever a respeito do que haviam compreendido sobre a região brasileira “da seca, fome e falta de tudo”, como ela escreveu na apresentação do trabalho das crianças.

Os garotos e garotas da periferia da periferia haviam atendido ao chamado da professora Lidiane – e a diretoria da EE havia apoiado a iniciativa. O livro – uma brochurinha de 26 páginas – foi feito de forma amadora, com os dois significados do termo: não professional e com amor.

O texto de introdução do livro – solicitado por Lidiane a um jornalista conhecido dela – dizia: “Em se plantando, tudo dá, diz a frase que vem desde o começo do Brasil. Este livro que está em suas mãos é uma perfeita prova disso. Uma professora dedicada plantando na cabecinha de seus alunos a semente da curiosidade, da vontade de aprender, da gana de saber, resulta em belíssimos frutos. Como os textos que estão nas próximas páginas. (…) São frutos da imaginação dos 30 meninos e meninas do terceiro ano da EE Joaquim Gonçalves Pereira da Silva. (…) E também da sorte deles (porque sempre é preciso um pouco de sorte…) de terem tido uma Lidiane Cristina na vida.”

No sábado agora, 21 de junho de 2025, Lidiane lançou seu primeiro livro Ioiô, o grio – e foi um lançamento de gala. Nada mais, nada menos que na Feira do Livro, em um dos lugares mais belos de São Paulo, a Praça Charles Miller, diante do Estádio do Pacaembu, onde estiveram, entre dezenas e dezenas de outros nomes importantes, respeitáveis, como, para dar só alguns poucos exemplos, o jornalistas Eugênio Bucci, o historiador Carlos Fico, os portugueses Lídia Jorge e Fernando Rosas, o médico Dráuzio Varella, o ator Lázaro Ramos. Onde Humberto Werneck, esse escritor que já deveria estar na ABL faz tempo, lançou seu Viagem ao País da Crônica, e, no Palco Petrobrás, participou com Luís Henrique Pellanda de uma mesa sobre o gênero crônica.

O lançamento do livro de Lidiane foi na tenda da Editora Quatro Cantos, bem perto dos portões principais do Estádio do Pacaembu. Ela estava com Izabella, agora com 17 anos, um linda cópia da mãe, o marido, Milton, e amigas queridas.

E, meu, a edição de Ioiô, o grio é um absoluto luxo.

Eu havia visto e lido, meses atrás, as páginas do livro, em PDF. Claro, havia ficado impressionado com a história em si escrita pela Lidiane – de um corajoso pescador de uma aldeia africana chamado Ioiô –  e com as extraordinárias ilustrações de Camilo Martins. Mas não imaginava, de forma alguma, uma edição em formato grande – 28cm x 19cm -, com capa dura!

A editora apostou tanto no livro da Lidiane que produziu um marcador com a mesma arte do livro! E, entregue como brinde, um enfeite de geladeira com uma das belas ilustrações de Camilo Martins.

Sensacional: Lidiane chegou chegando!

De repente, assim absolutamente de repente, me ocorreu, ao chegar a este ponto deste texto, aquela frase que é uma das mais belas da literatura brasileira, da literatura em língua portuguesa, da literatura – a frase de Graciliano Ramos em Memórias do Cárcere: “Liberdade completa ninguém desfruta: começamos oprimidos pela sintaxe e acabamos às voltas com a Delegacia de Ordem Política e Social, mas, nos estreitos limites a que nos coagem a gramática e a lei, ainda nos podemos mexer.”

Há quem se vitimize: ah, tadinho de mim, sou pobre, sou isso, sou aquilo, sou aquilo outro, preciso de ajuda!

Há quem, nos estreitos limites a que nos coagem a gramática, a lei, a pobreza, as dificuldades, as adversidades todas, reaja, aja, vá em frente, enfrente.

Lidiane é um exemplo vivo – e lindo – dessa coisa maravilhosa.

23 e 24/6/2025

2 Comentários para “Lidiane lançou seu livro”

  1. Eu escrevi um livro!
    Me olhando no espelho lembrando de mi há história, que daria um livro, e me fazendo entender que era a data de colocá-lo no mundo e deixar que voe.
    Quase sentei, dei até pulinhos enquanto via Sergio Vaz entrando, segurei no punho de uma amiga e chorei, ela chorou, sabia a importância de sua presença na minha vida. Peguei ele pela mão e saí apresentando, enquanto chorava, fiz questão que todos entendessem a magia do momento.
    Ioiô somente me trouxe momentos de extrema beleza e afeto, como nosso encontro.
    Grata sou pela vida do Senhor e da Mary que mesmo de longe seguiram fazendo diferença em nossa vida.

    PS. Os pulinhos ao te ver foram iguais aos que eu dava quando minha mãe chegava com a sacolinha com livros.

    Obrigada

  2. Que lindo, Lidiane, que lindo…
    Obrigado! Muito obrigado!
    Um grande abraço!
    Sérgio

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