Estrelas

A maioria sem ética do Conselho de Ética da Câmara Federal não achou nada demais um dos seus abandonar a cadeira de deputado federal e instalar-se nos Estados Unidos, para de lá mandar petardos contra a economia brasileira e sanções contra desafetos —, inclusive cassação de vistos para a Disney. 

Meu amigo marciano, que dava umas voltas pela Via Láctea atrás das novidades, pousou no alto do Copan recém reformado e veio me pedir uns esclarecimentos. 

Como é que um deputado sai do seu país livremente, com a família, a filhinha de colo, a babá da filhinha, as tralhas, com festinha de despedida no aeroporto e a conta bancária recheada de dinheiro do papai, e vai para outro país e desce lá com cara de fugitivo e exilado político?

Pois é, respondi, é mal de família. Você não viu nada ainda — comecei. Ele tem um irmão que fez fortuna vendendo bombom numa lojinha no Rio de Janeiro. Responde a processo no Judiciário por peculato, rachadinha e lavagem de dinheiro. Tá tudo parado porque se elegeu senador, sabe como é, né? Tem outro que faz fortuna como simples vereador no Rio de Janeiro. Também responde a processo na Justiça por peculato e rachadinha. E tem mais um que se elegeu vereador em Camboriú, SC, sem nunca ter botado os pés lá, tem 27 anos e promete, viu? Já está todo enrolado com a polícia e o Judiciário. 

Putz! Não tem ninguém que preste nessa família? — perguntou meu amigo, já enjoado. Não escapa um — falei. E continuei: 

A madrasta deles, atual mulher do papai, se faz de santinha de pau oco para levar os votos dos evangélicos na próxima eleição. Ela ainda não sabe se quer ser presidenta da República ou senadora ou deputada federal por algum Estado. Mas primeiro de tudo tem que explicar por que um ex-ajudante de ordens do marido, o Queiroz, botou na conta dela uns chequinhos que, somados, dão uma boladinha de R$ 90 mil. Fora outras boladinhas que madame guardou na bolsinha para eventualidades. Ah, tem mais: ela tem o hábito de usar cartões de crédito de terceiras para fazer compras e não deixar pistas, fora os arrombamentos que andou fazendo no cartão corporativo do marido-presidente. 

Putz! — falou meu amigo. E antes que perguntasse outra vez se não tinha ninguém que preste, voltei-me para a ficha dos irmãos e primos do maridão, que compraram imóveis de montão junto com ele no Vale do Ribeira, a terra da banana, não sei se dos bananas também (isso vamos ver na eleição do ano que vem), no sul de SP. Mas ele me cortou. 

Com dinheiro vivo, né? — perguntou já respondendo que sim. Ué, como é que você sabe? — indaguei. Porque na Galáxia tudo se sabe — respondeu. Então você já sabia de tudo que estou contando?  — redargui. Sim, eu só queria saber se tem alguém que presta na família — explicou, humilde. 

Xi, tem não. Por quê? — respondi, perguntando. 

Porque se tivesse eu ia convidar para um passeio na Galáxia. Você não sabe como é chato voar sozinho por esse mundão de céu sem porteira. 

Desculpe, amigão, mas dessa lagoa não sai nem jacaré — respondi. Dali só sai sucuri — completei. 

Infelizmente, não posso levar você, se não fico sem informante aqui na Terra — desculpou-se. 

Confesso que fiquei chateado por saber demais… Uma viagem pela Galáxia era tudo que eu queria nesta hora em que o PCC corre solto pela paulicéia, não tem drinque sem metanol e professoras perdem o emprego depois da licença maternidade porque faltaram às aulas para ter o bebê. Pode? 

Nelson Merlin é jornalista aposentado e desocupado, debaixo de um céu de estrelas que parecem gozar da nossa cara.

24/10/2025

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