Domingo no parque

Não foi no escurinho do cinema. Foi numa tarde de sol radiante e temperatura amena na capital paulista, sem nenhum outro concorrente por perto e com o padrinho político preso em casa, que Tarcínico de Freitas criou coragem e saiu do armário. 

Verdade que havia um concorrente sim, mas era a Micheque. Fungando e emitindo fórmulas religiosas para comover o gado, mas não para convencê-lo de que seria melhor presidente que o colega ao lado. 

Tarcínico comandou o show e mostrou a verdadeira cara. A cara do verdadeiro Tarcísio. Aquela em que ele sente melhor. A moderação e a circunspecção de outrora eram ficções falsas, incômodas. Então, rasgou a fantasia e botou pra quebrar. 

Foi o Malafaia que mandou, dizem uns. Foi o Bolsonaro, dizem outros. Talvez tenha sido o 01, até mesmo o Bananinha, disseram outros ainda. 

Em minha modesta opinião, o que eu acho é que ele tomou uns goles a mais na hora do almoço. Nem o Malafaia acreditou no que via. E o Bananinha adiantou-se a proclamar, lá do Texas, que agora vamos — como dizia Ademar de Barros a cada campanha presidencial, sem nunca chegar aos votos necessários. 

Mas Bananinha impôs uma condição: o novo Tarcísio revelado tem que continuar batendo em Xandão, o Terrível, e bater o pé pela anistia, ampla, geral, irrestrita e dupla, pois além do golpismo tem que reverter a inelegibilidade. 

Quer dizer, exatamente, que a famiglia Bolsonaro quer o chefe do bando na cabeça de chapa, Micheque no Senado, o 01 na outra vaga ao Senado e Tarcísio, agora enquadrado, para outro mandato no Bandeirantes. 

Só tem que combinar tudo com os russos — Motta, Alcolumbre (para votarem a anistia), Lula (para não vetar a anistia) e o STF (para não vetar a anistia e engolir o fim da inelegibilidade). Será que terão um Hércules para segurar o Monte Atlas nas costas? 

Pois se um pé da mesa fraquejar, o tampo vem todo abaixo com o banquete servido. 

Nelson Merlin é jornalista aposentado e espectador da cena nacional nas arquibancadas.

9/9/2025

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