Definições

Não foi pelo conjunto da obra, mas por atos específicos iniciados em meados de 2021 para dar um golpe de Estado, caso fosse derrotado nas eleições de 2022. No conjunto da obra estão pelo menos 300 mil mortes, do total de 700 mil durante a Covid-19, que poderiam ter sido evitadas com as medidas sanitárias que ele bombardeou e com as vacinas que boicotou e tardou a adquirir, de caso pensado. 

Os 27 anos e três meses de cadeia que recebeu na quinta-feira do STF foram pouco. Ele sai no lucro, estará de volta às ruas após cumprir um sexto da pena, pouco menos de cinco anos. Terá só o incômodo de ter de recolher-se à cadeia para lá dormir, mas em pouco tempo mais irá para o regime aberto, quando poderá levar vida normal, se não cometer mais crimes. 

Desgraçadamente, não temos prisão perpétua. 

Quanto aos direitos políticos, só os recupera no além-túmulo. Estão cassados até oito anos após a conclusão da pena aplicada. Como ele hoje tem 70 anos — e as penas foram reduzidas em função disso, beneficiando-o, embora tenha cometido os crimes antes dos 70, que é o que deveria prevalecer, mas em nosso Direito esta é uma idiossincrasia jaboticabal—, ele terá de esperar até os 102 para ressuscitar politicamente. 

Golpe de estado não é passível de anistia. Também isto não estava em julgamento, mas teve sua melhor e mais importante definição no voto didático-escolar do ministro Flávio Dino (Moraes e Gilmar já se manifestaram na mesma linha em outras ocasiões) logo no primeiro dia de julgamento. 

A definição joga água no chope da direita e apaga o princípio de incêndio que a bancada bolsonarista prepara no Congresso Nacional para alastrar pelo país pós-julgamento. 

Podem gritar, espernear e até fazer o fogo, pois são terroristas-raiz, mas já sabem como vai acabar. 

A posição da maioria dos ministros do STF deve retrair os ímpetos de anistia, ampla, geral e irrestrita, para uma simples redução de penas de alguns dos menos violentos e perigosos golpistas de 8/1 que restam nas prisões. 

Entre os otários, que são a maioria, um grande número já está ou em regime semiaberto ou em livramento  condicional. Outros otários, porém menos idiotas, fizeram acordos de não persecução penal e estão livres por aí. 

Para os chefes e chefetes ora julgados, não haverá nem uma coisa (anistia) nem outra (redução de pena). 

Com a perda do objeto, o “movimento” do gado parlamentar tende a morrer por inanição, não sem antes muito choro, gritos, velas acesas e ranger de dentes. 

Também não estava à vista, pelo menos até a linha do horizonte, o voto vergonhoso do ministro Fux. Mas em nada altera a situação dos réus, só complica a dele perante o colegiado. 

Fux foi tão estranho, incoerente e propositadamente avesso à lógica, à natureza e à dinâmica dos fatos denunciados que o raio de influência de seu voto deve ficar restrito ao círculo de sua própria toga — ou sua sombra ao sol do meio-dia. 

Seu voto soou tão falso quanto sua  cabeleira. Passará para a história como mais um que exigiu recibo do crime para condenar o criminoso. Será para sempre lembrado como aquele recruta que, pomposo, vaidoso e cheio de razão, marchou no sentido contrário ao de todo o batalhão, fechou os olhos e deu com a cara no portão do quartel. 

Trata-se de um juiz que condena o mordomo (e o jardineiro) por crimes cometidos a mando do dono da casa, que ele, no entanto, inocentou candidamente. Decerto por excesso de provas que, de tantas que eram, alegou que teve dificuldade de ler e entender

Resta-lhe o vexame, e a nós a vergonha de termos um juiz tão errático, contraditório, parcial e esquizofrênico na Suprema Corte. Pois ele mesmo condenou mais de 400 terroristas pelo 8/1 e agora, no julgamento dos fatos antecedentes e seus mentores, não viu crime nenhum, a não ser um do ajudante de ordens (!) e outro do vice do mesmo chefe. Passa para os anais da Casa como o autor do mais desvairado voto da história do STF. 

Aquele que viu uma tentativa de golpe acontecer — porque, afinal, condenou dois pelo crime — e não viu ninguém, entre os outros seis réus, para chamar de líder. Nenhum sequer para chamar de comparsa. 

Viu somente duas mulas sem cabeça. 

Nelson Merlin é jornalista aposentado e chocado com  a desfaçatez que se espalha pelo Congresso Nacional e chega, também, à Suprema Corte de justiça do país. 

12/9/2025

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