Leio que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, está tomando bordoada dos bolsonaristas do Congresso — ou seja, a maioria dos representantes do eleitorado nacional. O motivo é que ele pôs o dedo na ferida da desigualdade econômica e social do país e dos privilégios dados graciosamente pelo Parlamento ao pessoal da cobertura, em detrimento dos que vivem nos andares abaixo e da arraia-miúda que dorme nas calçadas, sem ter para onde levar a vida que lhe destinaram as elites desde o berço, ou antes dele.
Para os detratores do ministro, problema social não passa de problema policial. E como a polícia não resolve essas coisas, o que fazem é armá-la até os dentes para enfrentar a bandidagem e assim mostrar ao povo que armas, pelo menos, não faltam. A bandidagem dá risada… e o povo das favelas toma chumbo nas costas!
Será que um dia vai melhorar? Com esse Congresso de extrema direita, nunca. Com o Congresso de centro-direita que tivemos desde a redemocratização até as eleições de 2014/2018, as melhoras foram mínimas. Precisaríamos de um improvável Congresso de centro-esquerda para termos melhoras significativas — o que está mais próximo do delírio que do desejo.
No momento, a única chance que se abre no horizonte é a isenção total do imposto de renda para salários até R$ 5.000,00, com isenção parcial até R$ 7.000,00. O Parlamento não tem a menor intenção de acelerar o processo. Ao contrário, cata daqui e dali argumentos os mais estapafúrdios para atravancar o caminho. O último deles é que a compensação pela isenção não deve vir dos mais ricos, mas do conjunto da sociedade, onde esses coitadinhos que, supostamente, geram empregos mil, representam menos de 10%.
Justiça seja feita, esse tipo de ideia mal posta não veio da extrema-direita. Veio de Lula 1, Lula 2, Dilma 1 e Dilma 1,5. Foram os governos petistas que decidiram abrir as burras do Tesouro para os mais ricos, ou nem tanto, mas mais espertos. A suposição era que, com a bufunfa generosa, os investimentos decolariam, a renda aumentaria, os salários subiriam consistentemente e chegaríamos ao paraíso.
Nada disso aconteceu, obviamente, o paraíso parou no andar de cima e lá permanece. Mas a extrema-direita — e é aí que ela entra no palco — “acredita” que sim, que os ricos já fizerem sua parte e merecem as isenções e privilégios como direito adquirido para o resto da vida. E que se lasquem a esquerda e o povão para pagar a conta.
Para virar esse jogo calhorda, a renovação radical do Parlamento é uma necessidade absoluta. Ou então sempre teremos um Congresso atuando como o sindicato dos ricos, enquanto os pobres vão continuar disputando migalhas em volta da mesa.
Nelson Merlin é jornalista aposentado e nem sempre panfletário, como agora, mas justo mesmo assim e com razão!