Causos musicais

A ideia de fazer um canal de Youtube voltado para a música popular surgiu durante a pandemia de Covid.

Um grupo de amigos que gostam de música nos reuníamos toda sexta-feira na Escola de Choro de Brasília para tocar. Com a pandemia, isso se tornou impossível. Então, passamos a fazer reuniões on-line.

Um tocava uma música que estava ensaiando, outro mostrava um instrumento que tinha acabado de comprar, um terceiro distribuía partituras…

Eu contava histórias, causos, sobre músicos e músicas. Já aos 13 anos de idade, em Belo Horizonte, gostava de participar de concursos promovidos por uma emissora de rádio: quem está cantando essa música? qual é o nome dela?  quem é o compositor? e a gravadora? Aquele que acertasse tudo ganhava um vale-LP a ser resgatado numa loja de discos da cidade. Ganhei vários…

Voltando à nossa reunião, um colega gaitista esperava o relógio da sala bater 11h e levantava um cartaz escrito à mão: Está na hora dos Causos. Com esse e outros incentivos, resolvi partir para uma empreitada maior e lancei um canal no YouTube. Um amigo, Otto Sarkis, gostou da ideia e decidiu bancar os custos de filmagem e edição.

Como explicado no primeiro vídeo, nosso objetivo é resgatar nomes já esquecidos ou falar de talentos reconhecidos regionalmente mas com pouca divulgação nacional. Os medalhões não nos interessam, pois os grandes veículos de comunicação já falam tudo sobre eles. Assim, quando Erasmo Carlos, Gal Costa e Rita Lee morreram, não fizemos programas. Mas nos casos de Letieres Leite, Vital Farias, Arthur Moreira Lima, Antonio Cícero, Paulo Diniz e outros, sim.

Do ponto de vista regional, falamos sobre os paraenses Waldemar Henrique e Nilson Chaves; os baianos Mateus Aleluia, Roque Ferreira, o grupo de samba de roda Barlavento, o grupo de choro Mandaia; o pernambucano Capiba; o sergipano Mestrinho…Entre os mineiros estão Frei Chico e Zé Coco do Riachão (curiosamente, este tem o maior número de visualizações do canal até agora).

Em geral falamos sobre um personagem e mostramos trechos de vídeos. Mas, às vezes, fazemos uma entrevista presencial. Foi o caso de Xangai, Paulinho Pedra Azul, Indiana Nomma (autorizada pela família de Mercedes Sosa a cantar o repertório dela), Sérgio Moraes (um dos maiores flautistas do País) e outros.

Muitas vezes não falamos sobre uma figura e sim sobre um tema: Os Idosos na MPB; Serestas de Diamantina ou Conservatória; O Silêncio na Música Popular; O Desejo Feminino na MPB; Apelos pela Preservação das Árvores; Instrumentos Exóticos; O Festival de Parintins…

Uma série particularmente gostosa de fazer e interessante foi sobre Músicas Politicamente Incorretas (falaremos sobre ela num texto à parte).

Com a cantora Márcia Tauil, gravamos quatro programas: Canções feitas por Cangaceiros; o Dia da Cachaça; 1973: o Ressurgimento da MPB; Como Surgiram Canções do Clube da Esquina (este com a valiosa colaboração do pesquisador Ruy Godinho).

A maioria dos programas fala da MPB (não entraremos aqui na polêmica levantada por Edu Lobo – que já foi tema nosso -, sobre o que esse termo significa). Mas já fizemos também programas sobre assuntos internacionais: um sobre Pablo Milanés; outro sobre Mercedes Sosa; um sobre a música “If I Had a Hammer” (que passou de hino de protesto de Pete Seeger a lamento de adolescente, na voz de Rita Pavone); um sobre “Turn! Turn! Turn!” (música que teve o mais velho compositor – o rei Salomão – a atingir as paradas de sucesso norte-americanas); um abordando Músicas Francesas para Beber…

Enfim, já foram lançados 84 programas. Quem tiver interesse em conhecer esse trabalho, basta entrar no YouTube, em Causos Musicais, clicar no logotipo do canal (uma bola azul e branca em que está escrito Causos Musicais), depois clicar em Vídeos e todos os programas aparecerão, dos últimos até os primeiros. Aí, é só navegar por esse mundo maravilhoso da música popular.

(*) Bernardo A. Carvalho é jornalista e professor universitário aposentado. Hoje se dedica a pesquisar a música popular do Brasil e de outros países.

10/4/2025

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