Um papa na medida de Francisco, que o nomeara cardeal há somente dois anos: latino-americano por parte de mãe, norte-americano por parte de pai mas anti-Trump, e admirador de Leão XIII e, por óbvio, sua “Rerum Novarum”, a encíclica que, em 1891, condenou o capitalismo, açoitou o socialismo, que ainda não existia enquanto poder de Estado, e defendeu a justiça social e a igualdade para o mundo.
Imediatamente, os trumpistas sentiram o golpe. Enquanto o chefe, do alto de seu telhado na Casa Branca, comemorava a chegada de um norte-americano ao papado, o gado Maga mostrava, ao rés do chão, os dentes e as garras ao novo inimigo.
O Maga patológico lança contra Leão XIV as mesmas acusações que fazia a Francisco: woke, marxista, comunista, agente do demônio, sacripanta, anti-Cristo etc.
Nem a Maga Patalójika — personagem assumida de um anticomunista e dedo-duro da era McCarthy, o cartunista Walt Disney — poderia imaginar tais coisas. Essa fazia de tudo para roubar a moeda número 1 do Patinhas. O Maga de Trump quer roubar a consciência dos idiotas que o seguem.
Mas vai ser difícil, para eles, roer o novo papa. Sua Santidade é matemático formado e missionário calejado. O máximo que pode acontecer é uma briga feroz dos protestantes evangélicos neopentecostais trumpistas contra os católicos norte-americanos neotrumpistas, mas que podem se converter ao catolicismo agostiniano de Leão XIV, fazendo rachar a base do trumpismo.
Como os americanos estão pelas tampas com o tarifaço escatológico de Trump — entre outras sandices —, o fator Leão XIV pode virar a mesa onde o laranjão montou seu tabuleiro. Os católicos e os hispânicos — estes são 25% dos consumidores e têm afinidade genética e linguística com o eleito no Vaticano — têm força e expressão nos EUA.
Será um papado muito estimulante. O lado latino das três Américas terá nele um defensor; o lado anglo-saxão encontrará nele um crítico atento e arguto, com conhecimento de causa do American way of life, da corrupção nas altas rodas do poder — político, econômico e financeiro — e do sistema de dominação capitalista sobre o proletariado e a classe média.
A “Rerum Novarum” trata explicitamente disto, vale a pena ler e reler. Os termos do que se trata estão lá, tão presentes naquela época quanto hoje.
Não à toa, as vendas do libreto explodiram urbi et orbi.
Nelson Merlin é jornalista aposentado e agora mais animado do que nunca.
9/5/2025