Apesar de os comentários nas redes sociais serem na maioria favoráveis à jornalista Ilze Scamparini, correspondente da Globo na Itália, eu particularmente achei seu comportamento com William Bonner, de um mau humor desnecessário.
Ela se mostrou nada receptiva a qualquer tipo de informalidade, deixando claro que “desceu do telhado” por obrigação. Não olhava pra câmera, se esquivou de um abraço do colega de profissão e se limitou a ler os comentários sobre os papáveis (eita palavrinha feia pra falar dos cardeais mais cotados pra assumirem o trono do Papa. Pelo menos para os brasileiros, já que aqui o sentido é dúbio), no primeiro dia de votação do conclave.
De acordo com os sites de notícia, La Scamparini teria ficado irritada com uma brincadeira do Bonner, que no dia anterior disse que ela iria “descer do telhado” para participar do JN com ele. (O telhado a que se referia era o terraço da casa da repórter em Roma, de onde ela costuma fazer as transmissões).
Mas sua insustentável leveza de ser considerou ser esta uma “piada desnecessária”.
Ê, vá, Ilze. Pior teria sido se ele dissesse que você ia “subir no telhado”.
Tá certo que o assunto era outro e todos estavam ansiosos pela fumaça branca que acabou não saindo no dia do episódio protagonizado por Bonner e Ilze. Só teve fumaça preta, tanto da chaminé quanto da repórter.
O mundo teve de esperar pelo dia seguinte, quando finalmente foi anunciado o novo Papa. Adotando o nome de Leão XIV, o americano Robert Francis Prevost apareceu na sacada da Basílica de São Pedro, e quando viu que tinha muito mais gente do que no show da Lady Gaga no Rio, e até mesmo mais do que a multidão que compareceu na manifestação pró anistia em Brasília, acenou para o público frenético e se emocionou. Segurou umas lagriminhas, que eu vi.
Essa demonstração de sensibilidade às manifestações recebidas e seu discurso sobre “construir pontes” me cativaram. Eu entendi que, apesar de americano, o Papa não pretende passar a mão nos “lindos cabelos” do homem cor de laranja que constrói muros em seu país.
Só que, em se tratando de autopromoção, o oportunista alaranjado não perdeu a chance de aparecer. Fingiu que não entendeu o recado e declarou: “o Papa é nosso”.
Também achei uma gracinha quando Leão XIV (teria gostado mais se fosse Francesco II, não sou muito boa em algarismos romanos depois de X) discursou em espanhol, apesar de ter se saído muito bem no italiano.
Em 2014 Prevost foi nomeado administrador da Diocese de Chiclayo, no Peru, ficou por lá durante 9 anos e se tornou cardeal. Em 2023, foi acusado por três mulheres de ter acobertado abusos sexuais sofridos por elas quando crianças, praticados por dois padres peruanos.
Seus apoiadores desmentem essa acusação e afirmam que ele enviou, sim, um relatório ao Vaticano sobre o caso. E que essas acusações fariam parte de uma perseguição dos adversários. Quero crer que ele tenha agido em defesa das mulheres, caso contrário o Francesco teria dado um passa moleque nele no ato.
No mais, ele pareceu simpático, mente aberta (ma non troppo quando o assunto é LGBTQIAPN+, però não tão retrogrado quanto os mais conservadores), e disposto a conversar com líderes que querem a guerra e não a paz, pra tentar enfiar nessas cabeças duras que essa “brincadeirinha” deles já foi longe demais.
Que assim seja!
Amém!
Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 9/5/2025.