Quando a ditadura militar de 64 impôs a censura prévia aos meios de comunicação e à Cultura, os golpistas aplaudiram. A ditadura fechou o Congresso e calou a imprensa. Hoje, frustrados porque o chefe não deu o golpe em 2022, antes e após perder a eleição, os golpistas acusam o STF de impor censura nas redes sociais, que consideram propriedade intocável da extrema direita.
Pimenta no fiofó dos outros é refresco. Não sou eu que digo, apenas replico o xulo ditado popular. Quando é no próprio orifício, dói, né, pessoal? Mas será que dói mesmo?
Tenho provas que não. Pois insistem em ser reiteradamente censurados pelo odiado ministro Xandão. Só podem estar gostando. Parece-me que o que mais gosta é o trilionário da África do Sul, residente há algum tempo nos EUA.
Ele deve se deliciar com essa fruta ardida e ancestral, pois mesmo depois de tomar uma multa de R$ 18 milhões por descumprir a primeira censura, fez de tudo para tomar mais R$ 10 milhões na segunda, ao tentar driblar a anterior com uma artimanha infantil.
Agora, após a segunda dose, parece que arregou. Nomeou sua nova representante a mesma CEO brasileira que tinha se demitido na primeira traulitada para não ser presa, e pede ao Xandão, fazendo beicinho, que por favor suspenda a censura porque já cumpriu todas as ordens exaradas pelo Cabeça de Ovo, como o chamam nas redes.
Não sei se a pimenta está fazendo bem a suas partes íntimas, não me cabe dizer. Parece-me, contudo, que quem não está gostando nem um pouco disso é o bolso do trilhardário. Pois mesmo para um ricaço, R$ 28 milhões em duas multas para pagar de supetão, cash, como dizem os ingleses, argent sonant sur la table, como preferem os franceses, faz um bom estrago dentro das calças — nos bolsos da frente e nos fundilhos.
Mas eu gostaria que o Xandão fosse com calma, que ande a passos de cágado, como dizem os brasileiros ao criticarem a lerdice de nosso Judiciário. Não vamos admitir privilégios ao trilhardário. Todos nós, vis mortais, pastamos anos por uma decisão judicial. Eu mesmo pastei 12 por uma — trabalhista, na qual ganhei em todas as etapas e todos os recursos protelatórios — e mais 12 por outra, contra a Receita Federal, que me cobrou, indevida e ilegalmente, imposto de renda sobre os juros de mora nas verbas recebidas na primeira ação. Ganhei essa também, de ponta a ponta. Mas foram 24 anos corridos de batalha judicial exasperante para receber o que a lei já me assegurava desde a promulgação da CLT, em 1º de maio de 1943, e desde a primeira Constituição Federal da República, de 1891.
Não vou admitir que o trilhardário tenha o tal X de volta em tempo recorde. Que a pimenta lhe cause os estragos que merece, assim como a toda a curriola extremista que o cerca nesta terra de miseráveis e aproveitadores.
Nelson Merlin é jornalista aposentado e vingativo.
30/9/2024