Tô assim!

Quando perguntaram para a nossa queridíssima atleta Rebeca Andrade, lá em Paris, como ela controlava a ansiedade antes das provas, respondeu que pensa em receitas que gostaria de fazer quando voltasse ao Brasil. “Eu pego um monte de receita na internet de comida pra eu fazer quando voltar, mas não faço nenhuma”.

Descobri que eu e a medalhista de ouro na Olimpíada Paris 2024 temos algo em comum. Também vejo receitas, mas não pra aliviar a tensão de alguma prova, porque estou bem longe de ser uma atleta, mas pra não me irritar mais ainda com as notícias e os comentários nas redes sociais. Só que, ao contrário dela, vou pra cozinha e executo as receitas com fé e vontade.

O blá-blá-blá desta semana em torno do ministro Alexandre de Moraes já me rendeu uma cuca de banana, 75 broinhas de fubá, uma fornada de pão de minuto, docinho de leite, brigadeiro de colher e outras gordices, que em cabeça de esportista ficam só mesmo na cabeça.

Não entendo nada de Direito, e ter de ficar assistindo àquela cagação de regras de internautas “experts” em qualquer assunto que caia na rede é um saco. Mesmo quem entende da matéria tem dúvidas sobre se as mensagens trocadas entre o ministro TSE e seus pares do STF feriram as regras da moral e dos bons costumes das casas.

Para os críticos de Moraes, ele teria cometido abuso de poder compartilhando indevidamente informações entre as casas. Os que o defendem acham que não. O ministro Flávio Dino disse que Alexandre de Moraes estava sendo acusado de um crime gravíssimo, o de “cumprir o seu dever”. E continuou, irônico: “O TSE exerce poder de polícia, manda elaborar relatórios acostados em autos existentes, e isso é violação de rito”.

Sempre que tem um tema jurídico em pauta já se sabe que vai dar muito pano pra manga. As leis foram redigidas com parágrafos, entrelinhas, vírgulas que podem ser mudadas de lugar para mudar a regra, tudo num juridiquês castiço para que haja sempre uma válvula de escape, tanto para quem acusa como para quem defende.

Esses assuntos de divulgação pela imprensa de matérias que envolvem denúncias precisam ter muito critério. A primeira questão quando uma bomba cai no colo do editor é pesquisar se a fonte é fidedigna. E neste caso a pergunta é: Glenn Greenwald, o informante, é flor que se cheire? Ele teria algum interesse pessoal em fazer essa “denúncia”? Estaria ligado aos interesses de algum partido que gostaria de servir a cabeça de Moraes numa bandeja? (Nem precisa dizer que a bancada bolsonarista está tendo orgasmos múltiplos com a matéria. Já até formalizaram um pedido de impeachment contra Alexandre de Moraes.)

O passo seguinte seria ouvir juristas apartidários que mostrassem todas as nuances das leis e no que implicaria uma publicação sem embasamento jurídico.

Pela repercussão da publicação, não me parece que a Folha de S. Paulo, que divulgou a “denúncia”, tenha tido esse cuidado.

Pela explicação de Moraes e dos outros ministros do Supremo, esse troca-troca de informações é normal e não fere ritos. Seria, segundo eles, um troca-troca do bem, considerando inclusive que o TSE está apto a exercer o poder de polícia.

Já os que não concordam estão alvoroçados pedindo anulação de todas as sentenças dadas aos terroristas de 8 de janeiro.

Sei lá! Eu não estou saindo em defesa de ninguém, mas quando se trata de favorecimento de um time em detrimento do outro, fico sempre com um pé atrás.

E nestas horas o que acontece? Vou lá pra cozinha preparar mais uns pratos citados por Rebeca Andrade. Hoje vou de fricassé de frango, batata gratinada e, para o lanchinho da tarde, cookies com gotas de chocolate.

Servidos?

Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 16/8/2024. 

 

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