As besteiras foram maiores antes, mas por serem agora em menor número e gravidade não quer dizer que desapareceram. Refiro-me às besteiras (e malfeitos) do PT e dos governos Lula e Dilma, 1 e 2. As doses foram, então, cavalares e responsáveis pelo retrocesso igualmente cavalar que tivemos em 2018.
Em seu um ano e três meses de terceiro governo, o presidente Lula jogou algumas cascas de banana à sua frente para escorregar em seguida sobre elas. Não precisava, por exemplo, fazer salamaleques a Nicolás Maduro, notório ditador da Venezuela, quando veio aqui no ano passado.
Lula tem um estilo morde-assopra tanto com a esquerda como com a direita. Alguém disse a ele, tempos atrás, que Hugo Chávez era de esquerda e ele acreditou. Vai daí, o sucessor de Chávez tinha que ser de esquerda também e ele continuou acreditando.
Lula acha que todo governo de esquerda é amigo do PT. Essa é só uma das besteiras. Agora, tem que engolir a língua porque Maduro vai se reeleger após perseguir e/ou prender toda a oposição. E toma chumbo dele, que o acusa de estar entrando no jogo dos EUA por criticar a política interna da Venezuela. Maduro é chefe de um governo autoritário envolvido até o pescoço com o narcotráfico, e não admite críticas.
A adoração de Lula por Maduro tem reflexos na governabilidade aqui, mas ele não parece entender isso. Com afagos a Maduro, abre fogo contra seu governo na oposição e no eleitorado da direita e do centro, e até mesmo em setores da própria esquerda.
E Maduro nem dá bola para o brasileiro. Agora mesmo baixou uma lei anexando à Venezuela a região do Essequibo, rica em petróleo e pertencente à Guiana. Enquanto o brasileiro faz um contorcionismo diplomático para condenar as prisões de opositores venezuelanos.
Ele também dá tiros no pé quando quer mostrar sua independência na frente diplomática européia. Não tinha problema nenhum desancar o primeiro-ministro israelense pelos crimes de seu governo de ultradireita contra a população civil na Faixa de Gaza. Até o Biden faz isso, com palavras mais comportadas. Mas ele não precisava acrescentar ao seu pronunciamento na Etiópia que os judeus estavam repetindo Hitler em Gaza. Isso dói na alma deles. Há forte oposição de judeus em Israel e no mundo contra a guerra aos palestinos, que Netanyahu não diferencia do Hamas, mesmo que sejam crianças, mulheres e idosos. Esses judeus não são genocidas.
Com o contraponto desnecessário, Lula pôs fogo dentro de casa, atraindo contra si a colônia judaica e os crentes evangélicos, num momento em que precisa deles para ampliar sua base de apoio político e eleitoral.
Não que estivesse redondamente errado na comparação, mas foi inconveniente. Deve-se saber distinguir um Estado de um Governo, assim como uma religião de uma etnia. Conheço judeus que não vão à sinagoga. Conheço judeus que são ateus. Lula pisou na bola ao fazer uma comparação perigosamente descuidada num tema ultra-sensível.
Outra bobagem, mais recente, foi o PT fazer salamaleques em documento oficial da direção do partido ao ditador Vladimir Putin por sua reeleição na Rússia. Foi uma eleição de cartas marcadas, como todas desde Yeltsin. O PT regojizar-se com isso é o mesmo que bater palmas para a ditadura de 64/85 no Brasil, como fazem a direita e a ultradireita brasileiras.
A única diferença que vejo entre as duas é que a daqui matava a oposição no pau de arara, enquanto a de lá o faz com aplicação de venenos ou a deportação para a Sibéria, o que dá no mesmo. O documento de regojizo do PT ao chefão russo é um tapa na cara dos que lutam e dos que lutaram pela democracia e a liberdade, aqui e no mundo.
Perde ou deixa de ganhar votos do centro, com certeza. E da esquerda também, pois o PT não dispõe do monopólio de votos progressistas no país.
Nelson Merlin é jornalista aposentado e quase sempre estupefato.
8/4/2024