A descoberta do pré-sal gerou no segundo governo Lula um clima de Brasil Grande Potência. O próprio presidente estimulou a onda ufanista, alardeando que a vasta reserva de petróleo situada na profundeza marítima representava o passaporte para o futuro. Do ufanismo para a megalomania foi um pulo. Nascia a Sete Brasil, empresa fadada, nos planos mirabolantes do presidente, a ser uma “campeã nacional”, capaz de alavancar nossa indústria naval e ser uma das maiores, senão a maior empresa do mundo em quantidade de sondas contratadas.
Na apresentação de sua criação, o portfólio era de fazer inveja. Tinha em mãos um contrato com a Petrobras que contrataria da nova empresa 28 sondas para a exploração do petróleo do pré-sal. Um filét mignon imenso. Nem mesmo as gigantes do setor, a americana Noble, a Norueguesa Transocean e a inglesa Seadrill, tinham tantas sondas contratadas. E os contratos, no valor de U$ 89 bilhões, eram bem superiores aos das tradicionais empresas globais.
A reserva de mercado estava assegurada pela decisão da Agência Nacional do Petróleo de exigir das empresas de óleo e gás interessadas em explorar áreas do pré-sal conteúdo local, em percentagens crescentes. Assim, as primeiras sondas a serem fornecidas pela Sete Brasil deveriam ter 55% de conteúdo nacional e as últimas 65%.
A exigência seria a salvação da lavoura para a combalida indústria naval brasileira. A Sete era estratégica para a política industrial do governo Lula, pois iria abarrotar os estaleiros brasileiros com projetos de alta tecnologia e genuinamente nacionais. Esse argumento foi central para que a Petrobrás, fundos de pensão, grandes bancos nacionais e internacionais participassem na formação da empresa.
No mundo ideal do presidente, a Sete se afirmaria como um player mundial, singrando nos sete mares, daí o seu nome. Mas a realidade era outra. A nova “campeã nacional” criada em 2010 no governo Lula não tinha pernas, nem expertise, para fazer frente ao desafio.
Para se ter uma ideia dos obstáculos: no mundo existiam apenas 8 sondas do tipo exigido, mas a Sete encomendaria aos estaleiros nacionais a construção de 28 em um período curto de maturação. A indústria nacional também não tinha capacidade de responder à demanda de 55% de conteúdo local em cada sonda produzida. Sem falar de nossos estaleiros, inteiramente sem condições de fazer frente ao desafio. Também faltava à Petrobrás recursos financeiros para estar presente em todas as atividades de exploração do pré-sal, outra exigência draconiana da ANP.
A Sete Brasil foi um Titanic que afundou ao se chocar com o iceberg da megalomania do governo Lula e do escândalo do Petrolão. Um de seus diretores era Pedro Barusco, ex-gerente da Petrobrás. Em sua delação premiada, Barusco confessou que a empresa foi usada para irrigar propina nos dutos do Petrolão.
Das 28 sondas contratadas, a Sete só entregou quatro. O fiasco teve um custo altíssimo, gerando uma dívida de R$ 17 bilhões aos seus credores. Entre eles, a Petrobras, estaleiros navais, Fundo de Garantia da Construção Naval, fundos de pensão da Petrobras, da Caixa e o Banco do Brasil, entre outros.
O delírio começou a afundar em 2016. Sem honrar sua dívida astronômica, a Sete Brasil entrou com um pedido de recuperação judicial. A pá de cal veio agora. No final do mês passado entrou na justiça com um pedido falência. Seu naufrágio representa um dos maiores fracassos de política industrial ditada pelo dirigismo estatal na economia. A Sete foi filha legítima do modelo nacional-desenvolvimentista adotado nos dois primeiros governos de Lula. Esse modelo reserva ao estado o papel de indutor da economia. Ela não foi único nem o maior desastre da era petista. Também tivemos a Refinaria Abreu e Lima com o “amigo” Venezuelano, a Comperg e tantos outros devaneios.
O pedido de falência da Sete serve de alerta diante de várias sinalizações de que o intervencionismo está de volta, nesse terceiro mandato de Lula. O governo volta a falar em usar a Petrobras para reativar a indústria naval brasileira, interfere na distribuição de dividendos da empresa que é uma sociedade anônima, além de anunciar uma nova política industrial nebulosa. O cacoete intervencionista do presidente o leva ainda a interferir na Vale, uma empresa privada de controle acionário difuso.
O Brasil pagou preço alto por políticas de “conteúdo local”, de “campeões nacionais”, de políticas industriais ditada por um modelo autóctone desligado das cadeias produtivas globais. Tais erros não podem se repetir. Sete Brasil nunca mais!
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 13/3/2024.