Uma das coisas mais idiotas que já aparecerem em campanhas eleitorais foi a apresentação do Hino Nacional Brasileiro cantado em linguagem neutra durante comício do candidato à prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos, ocorrido no sábado, dia 24.
No palanque estavam, entre outros, Lula e Marta Suplícy, além do próprio Boulos, quando a cantora Yurungay, contratada pela equipe que organizou o evento, começa a cantar o Hino Nacional. Tudo corria dentro da normalidade, com as autoridades presentes devidamente empostadas para cantar junto, até ela mandar ver um “verás que es filhes teus não fogem à luta”, seguido de des filhes deste solo és mãe gentil”. Essa adaptação da letra para a linguagem neutra causou espanto no primeiro momento (Lula até parou de cantar) e, em seguida, indignação geral. Só se fala nisso nas redes sociais.
Não se sabe ao certo como e nem quando exatamente surgiu a linguagem neutra, mas, segundo esclarecimentos dos que a defendem, teria sido criada para que pessoas não binárias – aquelas que não se identificam nem com o gênero masculino, nem com o feminino – sejam representadas.
Ela visa a abolir o masculino e o feminino das palavras, substituindo as vogais que terminam em O e A por E ou X. Seu emprego não é proibido no país, mas também não é considerada uma linguagem que corresponda à norma padrão da língua portuguesa, tanto que em provas de vestibular ou de concurso público ela não é aceita. E menos ainda para modificar a letra original do Hino Nacional – de acordo com a lei 5700 de 1971, são proibidas alterações na letra e na melodia do hino, sob pena de multa.
Sem nenhum receio de ser taxada de homofóbica, porque não sou, acho essa linguagem neutra o ó do borogodó. Já não bastam o juridiquês, o economês e o mediquês pra ferirem nossos ouvidos de leigos? Já não basta esse “desacordo ortográfico” que mais prejudicou do que beneficiou a nossa já antes bem complicada língua? Tirar acentos que diferenciam palavras, por exemplo, dá um nó na cabeça da gente. Logo após o “desacordo”, me lembro de ter lido uma manchete no jornal local sobre um grave acidente ocorrido numa das principais rodovias que ligam São Paulo ao interior: “Acidente para a Anhanguera “. Fiquei me questionando por que raios a estrada precisava de mais acidentes, até cair a ficha de que era pára do verbo parar.
Além de feia, essa linguagem neutra (pelo menos pra mim é; acho muito esquisito ter de pedir ume penque de banane pro fruteiro do bairro), é totalmente desnecessária. Que benefícios ela traz para a comunidade elegebetequeiapeenemais? Não é por aí que se dá a inclusão. Ela se dá principalmente pelo respeito mútuo aos gêneros humanos, sejam eles quais forem.
Copiou, Abel Ferreira?
Porque parece que respeito não é uma palavra que conste do dicionário do Abel, técnico do Palmeiras. Ele já provou que não tá nem aí com o respeito quando agarrou sua genitália com a mão, pra mostrar ao árbitro que era macho, e agora não teve nenhum pudor em expor também sua misoginia com a grossura cometida contra uma jornalista, durante entrevista coletiva dia 24/08 após o Verdão ganhar de goleada do Cuiabá.
Alinne Fanelli, da Bandeirantes FM, perguntou sobre a lesão do lateral Mayke, que teve de deixar o campo antes de terminar o jogo e foi chorar no banco de reservas.
Nesse momento, o português subiu nas tamancas e respondeu: “Há uma coisa que vocês têm que entender. Eu tenho que dar satisfação para três mulheres só: minha mãe, minha mulher e a presidente do Palmeiras que é a Leila”.
Eu, nascida, criada e morta palmeirense, fiquei pê da vida com essa resposta e, se pudesse, devolveria a grosseria pessoalmente se soubesse falar português de Portugal.
Como não conheço xingamentos lusos, vou de linguagem neutra, já que esse é o assunto que encabeça o texto: Abel, você é ume idiote, ume grande filhe de pute!
Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 30/8/2024.