Ganhei, ganhei!
Mostra aí que ganhou!
E o vencedor não mostra nada.
Ganhei, ganhei! — é o que ele sabe dizer.
Então, meu amigo foi à secretaria do colégio e falou para o diretor:
Pô, diretor, assim não dá. A chapa da situação diz que ganhou e não mostra os boletins da apuração. Isso não pode! Como é que fica?
O diretor coçou a cabeça, olhou para cima pedindo uma inspiração divina e após 2 minutos pensando, disse:
Olha, meu jovem, a vida não é feita só de vitórias. Eu diria até que as derrotas são mais importantes, porque elas nos preparam para as vitórias que estão por vir.
Mas diretor, é a minha vitória que chegou. Eu tenho os números finais, contei um por um os votos. No ano passado perdi, agora é a minha vez. O senhor tem que intervir e abrir o boletim das urnas.
O diretor olhou mais uma vez para o teto e confessou:
Meu jovem, eu criei o Grêmio Estudantil para vocês aprenderem como as coisas funcionam neste mundo, mas já estou arrependido, isso só tem me dado dores de cabeça. No mês passado queriam me derrubar… é sempre uma crise depois da outra.
É ,diretor, a barra tá pesada, mas o senhor vai ou não vai mandar publicar o boletim das urnas?
Vou — respondeu.
A fraude ficou evidente. Contados os votos, a vitória do meu amigo tinha sido acachapante: 60% a 30%. Os outros 10% eram de votos nulos, brancos e ausentes. Pegaram esses 10 pra eles e tomaram 15 do meu amigo, ficando com 55% e ele com 45%.
Bom, né?
Parecia eleição na Venezuela uns 60 anos antes dela acontecer.
Lá estão quebrando o pau. No meu colégio, em nome da conciliação, o diretor extinguiu o Grêmio Estudantil. Quebramos o pau também e o Grêmio continuou existindo, mas como Grêmio Literário, dedicado somente à literatura e às artes.
O diretor suspirou aliviado, mas por pouco tempo, pois conseguimos reverter a coisa e os situacionistas acabaram expulsos do colégio por fraude.
Na Venezuela, os chavistas não querem soltar as tetas do poder. A fraude é tão descarada que nem a OEA nem os governos de esquerda do continente se animam a reconhecer a vitória do suposto “socialista” Nicolás Maduro, que cai de podre mas não larga o osso.
Nelson Merlin é jornalista aposentado e contador de histórias.
30/7/2024