Eu Quero é Botar Meu Bloco na Rua!

Mesmo com risco de ser preso a qualquer momento pelo comprovado envolvimento com os ataques de 8 de janeiro, Jair Bolsonaro insistiu em testar sua popularidade convocando uma manifestação para o último dia 25 na principal avenida de São Paulo. O evento reuniu 185 mil participantes segundo a USP, de 600 mil a 750 mil de acordo com a Secretaria de Segurança Pública e até 300 milhões conforme postagens de fãs ardorosos que não sabem que o Brasil inteiro tem 203,1 milhões de habitantes.
Com o apoio do governador Tarcísio de Freitas e com a malta de lambecus a tiracolo, Bolsonaro subiu no palanque e se limitou a pedir anistia pra ele próprio e para os presos que participaram do quebra-quebra nos prédios dos Três Poderes.

Gozado, logo ele, que aplaudia as prisões, torturas e mortes dos presos políticos na época da ditadura, vem agora pedir anistia para ensandecidos que cometeram crimes contra o patrimônio público e contra a Constituição! Pau que bate em Chico não bate em Francisco, Jair?

Para transmitir sua ira contra as instituições, o Messias escalou seu fiel escudeiro Silas Malafaia, que também se encarregou de reunir a manada na avenida.

No momento em que assumiu o microfone, alguns dos políticos que até então se mostraram valentes ao comparecer a um movimento liderado por um golpista, foram  saindo de fininho do palco com medo das consequências jurídicas. Entre eles estavam o governador de Santa Catarina, Jorginho Mello, o de Minais Gerais, Romeu Zema, o de São Paulo, Tarcísio de Freitas e o de Goiás, Ronaldo Caiado. (Desses aí o único em que já botei fé um dia foi o Ronaldo Caiado. Hoje torço para que não ganhe mais nenhuma eleição. Que vire um Ronaldo Encalhado).

Bom, e o bloco propriamente dito? Quem fazia parte dele?

Pelas imagens que vimos, os participantes eram de diversos tipos e se dividiam em alas:

•    Ala das Apaixonadas – composta por senhoras, outrora moçoilas românticas e sonhadoras, que conseguem ver beleza física em Jair Bolsonaro e até de suspirar quando se aproximam dele. (O que não faz uma catarata!)

Ala dos Soldadinhos – homens de idade avançada apresentando evidentes sinais de senilidade voltando a brincar na rua de Marcha Soldado Cabeça de Papel, como se ainda tivessem seus 3 ou 4 aninhos de vida.

•    Ala das Desinformadas – senhoras de terceira e quarta idade soltando a voz na avenida cantando animadas “Pra não Dizer que não Falei das Flores”, música de Geraldo Vandré, que foi um tapa na cara da ditadura militar vigente na época, o mesmo regime que essas senhoras defendem hoje pedindo a volta das Forças Armadas ao poder.

•    Ala das Trepadeiras – composta por uma única integrante, uma senhora de 58 anos que resolveu trepar numa árvore para ver a passeata de camarote. Caiu, parece que teve uma perfuração no pulmão e precisou ser internada. Mas deve ter ficado feliz mesmo estropiada, porque recebeu a visita do inelegível no hospital.

•    Ala das Alienadas – senhoras, que perguntadas sobre a razão de estarem enroladas na bandeira de Israel, respondem que é porque são cristãs. Não contaram pra elas que os judeus não são cristãos. Não sabiam também que só foram induzidas a apoiar Israel pra chutar a bola rolada pelo adversário, outro mal informado como elas, que comparou a guerra entre Israel e Hamas ao Holocausto (depois disse que não falou).

•    Ala dos Crentes – essa era a maior delas. Dos que acreditam piamente que Silas Malafaia é um enviado de Deus que ficou milionário por merecimento divino e não porque engrupiu seu rebanho tirando o suado dinheirinho de cada um com a promessa de uma vaga no céu.

•    Ala dos Turistas – esses se juntaram à dos Crentes e foram fazer turismo na Avenida Paulista, com viagem paga, lanchinho garantido e cinquentão no bolso pra chupar um picolé.

•    Ala dos Medrosos – os componentes dessa ala são pessoas que nunca leram um livro de História na vida e têm muito medo do comunismo, embora não tenham a mais vaga ideia do que isso venha a ser. Nem imaginam que o comunismo e uma ditadura de direta são a mesma bosta. Que nesses regimes as pessoas não têm liberdade de expressão e que elas têm de dançar a música tocada pelo tirano que tá no poder.  E que essa música é sempre a mesma.

Certamente, se o golpe não tivesse fracassado, passaríamos o resto de nossas vidas ouvindo a marchinha de carnaval: ” Daqui não saio, daqui ninguém me tira…”

Vade Retro, Satanás!

Eu quero mais é botar meu bloco na rua, brincar, votar, sem ninguém pra me encher.

Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 1º/3/2024. 

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