Eu preferiria um segundo turno Boulos x Nunes

Me entristece demais, na verdade me apavora a possibilidade de um segundo turno para a Prefeitura de São Paulo entre Pablo Boçal e Guilherme Boulos – e, diabo, isso agora, neste momento, faltando poucas horas para o início da votação, parece que é algo plausível. Até mesmo provável.

Isto aqui não é propriamente uma tentativa de análise política, que não é exatamente a minha praia. É só um desabafo, a expressão de um sujeito que está apavorado.

Não vi o debate da Globo, porque não consigo ver debates – não tenho nem paciência, nem estômago, nem estabilidade psicológica para ver debates. Mas vi atentamente a análise do debate feita na GloboNews – e soube que ficou claro que tanto Marçal quanto Boulos explicitaram que preferem um segundo turno entre eles, e não entre cada um e o prefeito Ricardo Nunes. Cada um deles acha que é mais fácil derrotar o outro do que vencer Nunes.

Minha candidata é Tabata Amaral – claramente a pessoa mais preparada para administrar a maior cidade do país. Moça inteligente, estudada, culta, com uma visão positiva, progressista, da administração pública. Centro-esquerda – o que eu defendo, aquilo em que acredito.

Claro que ela não vai chegar ao segundo turno – assim como não chegou ao segundo turno minha candidata à Presidência da República em 2022, Simone Tebet, ela também a candidata mais inteligente, mais preparada naquela eleição em que fomos obrigados a escolher entre o sabidamente ruim e o estrondosamente, fantasticamente horroroso.

Em 2022, diante do perigo da vitória do inominável, fiz campanha para Lula, dentro das minhas limitadíssimas limitações. Muita gente boa também fez, e felizmente ele foi eleito – para logo em seguida renegar qualquer tipo de frente ampla e fazer um governo todo voltado apenas para seu próprio partido.

Este ano, o PT apóia Boulos, e muita gente boa faz campanha pelo voto útil em Boulos. Ou seja: olha lá, eleitores da Tabata, votem logo em Boulos, para garantir a ida dele para o segundo turno, para impedir que dois direitistas cheguem ao segundo turno.

Esse é o apelo. Na verdade, o que se pretende é que dê no segundo turno Boulos e o Boçal, porque se acredita que contra o radicalismo de ultradireita dele São Paulo faça como em 2022.

Acho isso arriscadíssimo. Perigosíssimo. Quase suicida.

Ao contrário do que dizem tantos analistas, não penso que a população de São Paulo seja majoritariamente conservadora. Estão aí Luiza Erundina, Marta Suplicy, José Serra, Fernando Haddad, eleitos prefeitos, e também Mario Covas – que venceu a direita com galhardia para o governo do Estado por duas vezes – para provar isso.

Mas acho arriscadíssimo, perigosíssimo, quase suicida colocar diante dos paulistanos – ainda mais depois da aberta, claríssima traição de Lula à “frente ampla democrática”  convocada em 2022 – a opção entre um franco-atirador que fala a linguagem do inominável, que sabe como manejar essa arma poderosa que são as redes sociais, e um político bem intencionado, porém identificado como um radical, um invasor de propriedade privada.

Seria muito melhor para São Paulo ter que escolher, no segundo turno, entre Ricardo Nunes e Guilherme Boulos. Eu, e creio que muita gente que pensa mais ou menos como eu, votaria em Boulos – mas, se Nunes ganhasse, paciência. Teríamos mais quatro anos de um prefeito ruim.

Se o segundo turno for mesmo entre Boulos e o Boçal, morro de medo de que a rejeição a Boulos entregue a maior cidade do país às mãos da pessoa mais irresponsável que já surgiu na política brasileira nos últimos 524 anos – o inominável inclusive.

Não sei o que fazer diante dessa aparente inevitabilidade de que o Titanic se choque com o iceberg. Realmente não sei. Vou votar na Tabata. No primeiro turno, deve-se votar no melhor candidato.

4/10/2024, 2h

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