Diversões

Os folguedos bolsonaristas em Copacabana, domingo passado, tiveram um momento que nos cobre de vergonha perante o mundo civilizado. Não é que armaram uma escadinha feita com sarrafos de caixotes na qual o devoto subia para posar de papagaio-de-pirata tendo ao lado um cartaz de bajulação ao Elon Musk? E ainda pagava 5 pilas para fazerem a foto com ele de bobão lá em cima? E levava o vexame para mostrar em casa para a família, os amigos, os vizinhos?  

 Eu pensava que acender luzinhas para os ETs ou rezar para pilhas de pneumáticos fosse o máximo do besteirol a que os bolsominions podiam chegar. Mas com essa escadinha montada em Copacabana chego à conclusão que ainda tenho muito que ver e saber. 

Isso tem um lado bom. Como já estou com 78 e dois meses, vou levar no mínimo uns 20 para apreciar e processar tudo que eles possam produzir em matéria de bestialogia. E isso me garante uma certa longevidade para ficar mais um pouco neste mundo de que tanto gosto e me faz escrever com mais gosto ainda. 

É divertido. O cartaz com a mensagem de palmas ao Musk estava escrito em inglês, claro, que ninguém é besta de escrever em português a um analfabeto no idioma de Camões. Mas se tinha alguém com conhecimentos básicos da língua de Shakespeare, pode ser um sinal de que a patuscada está evoluindo. Ou que há infiltrados dos EUA e UK nos extremistas da direita brasileira. 

Embora não descarte a segunda, prefiro a primeira hipótese, na crença secreta de que uma hora os bobos vão se dar conta da empulhação dos Malafaia, dos Bolsonaro, dos trumpistas, do Tea Party, da famigerada KKK e outros grupelhos neonazistas pelo mundo. 

Anos atrás, os evangélicos não ligavam para política, mas alguns  bispos e pastores espertos viram que podiam fazer um bom dinheiro comprando candidatos nas eleições. O dinheiro não era deles, claro. Era dos devotos que contribuíam com seus trocados para o bem-estar de deus e da igrejinha. Mas o dinheiro que voltava para eles, esse ficava com o bispo e o pastor. A patuleia que ficasse lambendo os beiços. 

Hoje, seitas evangélicas nadando em dinheiro e bispos e pastores vivendo como nababos se tornaram lugar comum, enquanto os devotos continuam fazendo contribuições ao império da fé. As bancadas evangélicas nas câmaras municipais, assembléias legislativas e no Congresso nacional crescem sem parar, indicando claramente que o objetivo é tornar o Brasil um país de zumbis. 

Diversão não vai faltar. Mas espero, sinceramente, que os 30% de brasileiros evangélicos de hoje despertem do berço esplêndido e caiam na real. E que me poupem das risadas, para o bem de todos e felicidade geral da nação. 

P.S.: — Agora, se não chamarem Xandão de Xandinho são mal agradecidos, depois que o calvo ministro do STF sentenciou que o ex-presidente não deixou claro se pretendia asilar-se na embaixada da Hungria ou só fazer uma visitinha de dois dias, com travesseiro e, talvez, escova de dentes no bolso, para matar as saudades do gorducho Orban, que lá nem estava mas podia ter deixado um cheirinho nos corredores ou no quarto de dormir. Vai daí, Xandinho houve por bem arquivar o pedido de investigação por tentativa de fuga mediante asilo político. Diz que não caracterizou. E precisava? 

Nelson Merlin é jornalista aposentado em busca de diversões.

24/4/2024

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