A cadeia

Não sei o que está acontecendo nas cabeças coroadas da extrema direita brasileira. Quer dizer, até sei. Mas até a semana passada era só o ex-ajudante de ordens do ex-chefe que estava querendo ser preso — o que acabou conseguindo.

Outros, que não vou mencionar para não cansar meus parcos leitores, também insistem em ver o sol quadrado com urgência. 

Agora, somos informados pelo jornal The New York Times que o ex-chefe do ex-ajudante de ordens também quer porque quer a mesma coisa — e infelizmente ainda não conseguiu. Aliás, queria porque queria bem antes do ex-ajudante. 

Depois de entregar seu passaporte ao ministro Xandão, que o pedira no começo de fevereiro, eis que o intrépido capitão decidiu abandonar o território nacional e abrigar-se nas dependências da embaixada da Hungria em Brasília, lá ficando escondido por dois dias e duas noites. 

Aparentemente, dava como favas contadas que ia ser preso e naquele momento essa era uma coisa que ele não queria. Mas ao sair da casa húngara, topou o risco de ser e o risco permanece, pois entre as limitações impostas por Xandão está a de não deixar o território nacional sob hipótese alguma, tanto que lhe tomou o passaporte. 

O que ele fez dá motivo para a autoridade expedir uma ordem de prisão preventiva. Mas o Xandão nem sabia do malfeito, cometido um mês e meio atrás. Agora que sabe, pode concluir facilmente que a primeira coisa que o valente vai fazer ao saber de uma ordem de prisão contra ele será correr para a embaixada. 

E ele é ou foi bom corredor, sendo essa sua especialidade (a única) quando entrou para o Exército na quota de atletas. 

Diante desses fatos, Xandão só tem duas escolhas: prender já o Imprestável ou mandar a PF montar guarda na calçada da embaixada, para parar todos os carros que entrarem após expedir o mandado de prisão. 

A segunda não me parece uma boa escolha, pelo potencial de confusão que encerra. 

Uma terceira escolha poderia ser a de instalar tornozeleira eletrônica no indivíduo, com a proibição de se aproximar a menos de 500 metros de qualquer embaixada. Mas também descarto, pois o troço pode enguiçar ou ser violado por seu portador. 

A primeira salta aos olhos que é a melhor, por ser a mais simples e segura e por restaurar a autoridade desrespeitada pelo indiciado. As hostes bovinas irão para as ruas reclamar, mas isso é o tipo da coisa que dá e passa.

Até porque é o que o Imprestável estava sem querer querendo, faz tempo…

Terá chegado a hora? 

Nelson Merlin é jornalista aposentado e confiante, 

25/3/2024

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