Laurinha entrou na sala de almoço com o bolo recém confeitado. Coberto de chantili, cerejas por cima, uma obra de culinária. Sucesso garantido, no encontro com colegas de escola que teriam à noite. Colocou-o sobre a mesa de refeições, muito feliz. E deixou a sala. Estava em seu quarto, quando ouviu o grito de pavor de sua irmã, a Beth. Quase se chocam no corredor.
— Que foi? Que foi?
— Uma barata.
— Onde? Onde?
— Na sala de almoço.
As duas tinham pavor de barata.
Vai que vai, Laurinha, afinal a mais atingida pela situação, toma-se de coragem e arrisca um olho com a porta entreaberta. O quadro é o seguinte. A barata está na mesma parede em que a mesa acha-se encostada com o bolo. Apenas, em posição um tanto mais alta. Pode, com um vôo direto, aterrissar sobre o chantily.
O que fazer, meu Deus? Por fatalidade, a mãe e a avó das garotas não estão em casa.
— Elas não têm medo de barata – diz Laurinha. – A vovó nunca teve medo de inseto nenhum. Nem de cobra.
— E aranha?
— De nada.
Ímpetos desesperados. Pedir socorro pelo 130 da Polícia Militar. Para atacar uma barata? Vão achar que é trote. E o vizinho, seu Carlos? Nesta hora está trabalhando…
— O primo Juninho! Por onde andará?
— Quem vai saber…
Ora, como é a vida… Juninho está entrando na casa das primas. Resolveu tomar um cafezinho… Usa a porta da cozinha, sempre deixada aberta. Atravessa a cozinha, passa para a sala de almoço e se depara com o bolo sobre a mesa. “Oba”, anima-se. O acontecimento seguinte é este: vê a barata na parede. Puxa uma cadeira, descalça um tênis, sobe na cadeira e dá uma tenisada na barata, que cai no chão, morta.
Simples assim.
Esta crônica foi originalmente publicada no blog Vivendo e Escrevendo, em janeiro de 2023.