Radicais contra radicais

Sem a criação de um estado palestino ao lado de Israel, não há solução para o conflito. Por azar, neste momento extremistas contrários a qualquer acordo governam os dois lados em guerra.

Pesquisas anteriores aos ataques terroristas do dia 7 de outubro mostraram que 70% dos palestinos rejeitam o Hamas.

Oficialmente, quem governa o povo palestino é a Autoridade Nacional Palestina, sem poder militar para conter o Hamas e nem o Hezbollah, que tem as suas bases na Jordânia, perto da fronteira Norte de Israel.

Na prática, o grupo terrorista Hamas mantém a maior parte da população palestina em Gaza sob um regime ditatorial, apesar de obter apoio de uma minoria.

Os mesmos 70% declararam que gostariam que o Hamas fosse desarmado pela Autoridade Nacional Palestina, para facilitar as negociações com Israel.

Vivem sob constante ameaça e dominação violenta por parte desses radicais. As mulheres, naturalmente, sob intensa opressão.

Os palestinos sabem que vão sofrer muito cada vez que o Hamas bombardeia Israel, por causa da resposta violenta a esses ataques.

Inclusive porque o Hamas sempre colocou, propositadamente, lançadores de mísseis nos terrenos próximos a escolas, hospitais e áreas residenciais de Gaza.

O objetivo é obter vítimas, principalmente crianças, para serem mostradas como propaganda, após o resultado dos contra-ataques israelenses aos seus lançadores de mísseis.

Fanáticos do Hamas e do Hezbollah não contam vítimas, a não ser para fazer propaganda. Para eles, é uma honra morrer por Alá.

Pouca gente presta atenção, mas o Hamas e o Hezbollah lançam centenas de mísseis anualmente dentro do território de Israel. Esses ataques nem são muito noticiados, pois fazem poucas vítimas entre os judeus.

Tudo graças ao Domo de Ferro, sistema de defesa israelense que detecta e destrói mísseis lançados em direção às áreas povoadas. Não são muito noticiados, mas os bombardeios são constantes. Cerca de 400 mísseis são lançados no território de Israel todos os anos

Já a população palestina não conta com um sofisticado sistema de defesa contra bombardeios. Funciona apenas como escudo e matéria prima de propaganda.

O truque do Hamas permite o recebimento de algum apoio internacional. Ainda mais agora, que Israel tem um governo de extrema-direita, radicalmente contrário à criação de um estado palestino.

Nos contra-ataques, ao localizarem e tentarem destruir os lançadores de mísseis do Hamas, os israelenses correm o risco de atingir escolas, hospitais e residências, matando ou ferindo civis, inclusive crianças.

A repercussão negativa é enorme e imediata. Ninguém suporta ver crianças feridas ou mortas. A tétrica propaganda de guerra desenvolvida pelo Hamas acaba obtendo apoio de parte da população local e da esquerda internacional.

Neste momento, os dois lados são governados por radicais, que só se conformam com a destruição total do oponente. Incluindo aí o Hezbollah, que pode atacar Israel a qualquer momento, pelo Norte

Sem a criação de um estado palestino, o conflito não terá fim.

Incrivelmente, muitas pessoas hoje desconhecem que a ONU criou, sim, dois estados no território hoje disputado. Foi numa histórica sessão presidida pelo brasileiro Oswaldo Aranha, em maio de 1948.

Mas foram os palestinos e os países árabes que recusaram a criação desses dois estados, proposta pela ONU, logo após a II Guerra Mundial. Meses após, todos os seus exércitos atacaram de surpresa, ainda em 1948, o recém-fundado estado de Israel, com a intenção de extingui-lo.

Os palestinos precisam aceitar a divisão que rejeitaram 76 anos atrás. E Israel precisa devolver os territórios palestinos que ocupou por pressão de seus radicais.

Ou os que tomaram para se defenderem de novos ataques, como no caso das colinas de Golã, um local de onde antes a Síria alvejava do alto Israel com seus canhões.

Tanto o Hamas e o Hezbollah quanto o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu são contra a divisão do território em dois estados, estabelecida pelo plano de partilha da ONU, na Resolução 181, de 1947.

Após atacarem e serem derrotados por Israel nas guerras de 1948, 1956, 1968 e 1973, juntamente com exércitos da Síria, Egito, Jordânia, Iraque e outros países árabes, os palestinos foram aos poucos perdendo grande parte do seu território, definido pela partilha proposta pela ONU.

Os seus radicais nunca aceitaram nada menos do que a destruição total de Israel. E Israel sabe que se perder uma guerra para eles, deixará de existir como país, e os judeus serão massacrados.

O impasse levou o povo palestino a viver numa situação de penúria. A Faixa de Gaza é praticamente um Gueto de Varsóvia, superpovoado e sem recursos.

Durante anos, Israel foi governado por partidos de centro-esquerda, ou de direita moderada, favoráveis a um acordo de paz. Porém, Hamas e Hezbollah acabaram se tornando os principais cabos eleitorais do extremista de direita Netanyahu.

Os extremistas que apóiam o atual primeiro-ministro não têm a mínima disposição para um acordo de paz e devolução de territórios ocupados. E o governo não hesita em bombardear Gaza, mesmo sabendo que é impossível não atingir muitos civis.

Os dois lados têm bons argumentos para continuar o conflito.

Em 1948, Síria, Jordânia e Iraque, liderados por Gamal Abdel Nasser, ditador do Egito, convenceram os árabes da Palestina a não aceitarem a proposta da ONU de dividir o território com os judeus, povo com história milenar na mesma Palestina. Garantiram que iriam rapidamente destruir o país dos judeus.

Após atacarem e serem derrotados em quatro guerras, os países árabes finalmente desistiram de destruir militarmente Israel. Deixaram o campo aberto para os grupos terroristas, que assumiram a linha de frente do conflito.

Por falta de poderio militar, esses grupos terroristas passaram a promover massacres por meio de atentados.

E logo perceberam que, passado o primeiro impacto de seus atos violentos, mesmo os praticados na Europa, como nas Olimpíadas de Munique, em Paris, ou na Argentina, em aviões, em embaixadas e instituições ocidentais na Ásia e no Norte da África, no final venciam facilmente a guerra de propaganda.

Afinal, podiam sempre desfilar com os cadáveres de seus escudos, crianças e civis.

Apresentando seus cadáveres, e números duvidosos de mortos, garantem sempre a empatia de boa parte do mundo árabe e do Ocidente.

Hoje, o Hamas e o Hezbollah praticamente só contam com financiamento do Irã e um discreto apoio da Rússia, até por fazerem o mundo esquecer da invasão da Ucrânia. Mas já vêem grande parte da opinião pública mundial virar a seu favor.

Por sua vez, para derrotar o Hamas, vingar seus 1.400 civis mortos, e resgatar mais de 200 reféns, Israel poderá ter que pagar o preço de ser, ironicamente, acusado de provocar um novo Holocausto em pleno século XXI.

Por falta de poder militar, e do antigo apoio do mundo árabe, Hamas e Hesbolah optaram por uma guerra de propaganda, que sempre derrota o poderio militar de Israel. Nela, o principal derrotado é sempre o sofrido povo palestino.

Novembro de 2023

Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *