“Quem é você que não sabe o que diz,
Meu Deus do Céu,
Que palpite infeliz…”
Noel Rosa não estava se referindo ao Lula quando compôs essa música, mas até que poderia.
Nesta semana o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pressionado para declarar seu repúdio aos horrores que Putin anda cometendo, acabou dando uma no cravo e outra na ferradura: condenou a invasão da Ucrânia pela Rússia, mas sentou em cima quando teve a infelicidade de jogar uma cota de culpa no sofrido pais: “Quando um não quer, dois não brigam”, disse ele.
Como assim, cara? Quer dizer que o Zelensky poderia ter aberto as portas de seu país e, com um sorriso, dizer: entre, filho da Putin?
Frase mais do que infeliz. Frase filhadaputin de quem não tem coragem de assumir um lado abertamente, talvez até porque ache que o maluco esteja agindo corretamente.
É impressionante a capacidade que esses presidentes, tanto o anterior como esse, têm de falar bobagem. E de fazer!
Um com síndrome de napoleão de hospício que passou quatro anos fazendo o diabo pra se manter no cargo. O outro que só fala do Diabo e que vem repetindo a mesma lenga-lenga desde que assumiu o cargo. Lula não se cansa de dizer que esse 8 de janeiro é pra ser esquecido (mas ele não esquece) e que jamais vai haver outro igual. Suas entrevistas têm se resumido a isso.
– Sr. Presidente, o senhor está priorizando as reformas necessárias ao país?
– Claro! Quem não fez isso foi o ex-presidente Jair Bolsonaro, aquele que tentou dar um golpe de Estado, çabe? Eu garanto que isso nunca mais vai acontecer, porque o meu governo é o governo da democracia.
– Sr. Presidente, o senhor vai se vender ao Centrão para aprovar seus projetos?
– Quem fazia isso era Jair Bolsonaro. Ele tentou dar um golpe de Estado, çabe, quis acabar com a Democracia, mas eu garanto que nem ele nem ninguém vai conseguir, çabe.
– Sr.Presidente, o senhor vai combater a corrupção, inclusive a sua, para que a história não se repita?
– Çabe, eu vou lutar pela Democracia, aquela que o ex-presidente quis acabar com um golpe de Estado. Jair Bolsonaro atentou contra a democracia, çabe, mas isso não vai mais acontecer.
– Sr.Presidente, o senhor ficou satisfeito com a reeleição dos presidentes da Câmara e do Senado?
– Fiquei, sabe por quê? O Pacheco sempre defendeu a democracia e o Rogério Marinho é da turma do presidente que tentou dar um golpe de Estado, çabe? É preciso acabar com isso. O Arthur Lira é um democrata que sempre esteve do nosso lado desde que venci as eleições. Antes ele vestia camisa verde-amarela mas era por causa da Copa. Agora ele vai lutar com a gente contra esses golpistas, e sem nenhum interesse particular, só pensando mesmo no bem-estar do país, çabe? Afinal estamos todos empenhados em evitar que novos golpes de Estado venham a acontecer e estaremos todos unidos repetindo o refrão de outro democrata nato, Augusto Aras, que sempre conduziu a PGR com a lisura de caráter que lhe é peculiar: “Democracia eu te amo, eu te amo, eu te amo”.
Ah, a politica!
Nela é tudo tão dinâmico que a gente começa cantando Noel Rosa e acaba com Roberto Carlos:
Eu te amo!
Eu te amo!
Eu te amo!
Oh! Oh! Oh! Oh! Oh!
Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 3/2/2023.