O Pix do Queiroz

Um amigo meu não me deixou fazer um Pix de 10 para o Inominável. Eu expliquei que não eram os R$ 10,00 como o do Queiroz, mas 0,10. Dez centavos, em bom e fluente português. Com a intenção de, com isso, registrar no Pix meu protesto contra o fulano. Mas assim mesmo ele não deixou.

“Nem um centavo”, disse. Argumentou que a criatura já recebe mais de R$ 100 mil por mês, em salários do Exército, da Câmara, da pós-Presidência e de uma boquinha, na verdade um bocão, no PL — que meu amigo não sabe mais se é Partido Libertador ou Partido Liberal ou Partido da Louvação ou coisa pior. Tanto faz. Mas é partido mantido com gordas verbas tiradas dos impostos pagos a duras penas por toda a população a fundo perdido, e bota perdido nisso.

É muita cara de pau o sujeito fazer vaquinha para pagar multas eleitorais e sanitárias. Dei razão ao meu amigo, mas ficou uma dúvida. Será que o homem ganha mesmo R$ 100 mil por mês? Não é mais, não? Muito mais? Porque esses R$ 100 mil são com nota. E grana sem nota não tem?

Minha pergunta não é capciosa. Pois todo mundo sabe, e eles da famiglia não se cansam de confirmar,  que são fãs de pagamentos com dinheiro vivo. Quer dizer, o elemento recebe pelo banco a montanha de salários, troca tudo por dinheiro vivo, mistura com outros dinheiros vivos e sai por aí pagando as despesas com maços de R$ 50 e R$ 100. Mochilas inteiras de dinheiro pagam compras de mansões e outras coisinhas para a famiglia. Coisa de doido!

A desculpa deles é que dinheiro vivo é dinheiro como qualquer outro. Mas aí o meu amigo, que é entendido nessas coisas porque já foi delegado de polícia, rebate dizendo que ouvia essa história todos os dias de malandros que eram levados para a delegacia. “Doutor, é dinheiro sagrado do meu suor trabalhando na rua”. 

Eu soube que tem banco que não aceita mais depósito em dinheiro vivo no caixa humano. Depósitos assim só podem ser feitos botando o dinheiro no envelope e despachando no caixa eletrônico que existe para isso. 

A razão é que dessa forma o cliente se livra de filas e o banco não precisará mais de tantos caixas contando dinheiro, e com isso poderá baratear as tarifas bancárias cobrada do público. Quer dizer, dinheiro vivo é um problema para os bancos e para os clientes. Só não é para os membros da famiglia ex-presidencial. 

“Não me pergunte por quê”, responde de antemão meu amigo ex-delegado de polícia, adiantando-se a minha inevitável pergunta, só de olhar para minha cara. 

“A única coisa que me espanta é o Queiroz fazendo Pix”, diz, cofiando o bigode. 

Nelson Merlin é jornalista aposentado e desconfiado. 

29/6/2023

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