É o mínimo que se espera de um governante

“Eu não esqueci. E você?”, escreveu a ex-deputada bolsonarista Joice Hasselman no Twitter, às 18h05 da segunda-feira de carmaval. 20/2. Abaixo, aquilo que não dá para esquecer: “Bolsonaro ignorou tragédia na Bahia em 2021 para tirar férias e andar de jet ski” – e, para ilustrar, um filmete do ex em festa no mar de Santa Catarina e um do atual presidente da República, sobrevoando as áreas devastadas pelas chuvas no Litoral Norte de São Paulo.

O post da ex-deputada que virou adversária de Jair Bolsonaro depois de ter sido uma de suas maiores apoiadoras no Congresso é apenas um exemplo. As redes sociais se encheram de mensagens como essa, fazendo a comparação entre as atitudes do ex e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva diante de uma tragédia que infelicitou milhares de famílias.

Como certamente boa parte dos brasileiros, eu, pessoalmente, fui bombardeado por elogios desbragados a Lula em dois grupos de WhatsApp, um da minha família, o outro de ex-colegas dos tempos do Jornal da Tarde de São Paulo.

“Repita comigo: como é bom ter presidente!”, dizia uma mensagem de um parente querido, junto com uma reprodução de duas notícias, a de antes e a de agora: “Bolsonaro ignora tragédia na BA, anda de jet ski e fala em manter folga em SC” e “Lula interrompe folga de carnaval e vai a SP em razão de tragédia das chuvas”.

Outra mensagem dizia: “Lula presente em São Sebastião, presta solidariedade à população sem distinção política.”

E em seguida outro parente reafirmava: “Sim. Lula hoje em São Sebastião prestando todo o apoio ao município/à população. Nosso presidente faz o que precisa ser feito.”

No grupo de tarimbados jornalistas, apareceu a reprodução de um tuíte de guilhermeboulos.oficial com as mesmas duas notícias – a de antes, de Bolsonaro ignorando a tragédia da Bahia, e a de agora, de Lula interrompendo a folga de carnaval – e mais ilustrações.

Tarimbados jornalistas felizes exatamente da mesma forma que meus parentes petistas. Felizes que nem pinto no lixo.

Ao fazer a comparação que tinha necessariamente que ser feita entre as duas atitudes destes dois presidentes da República tão antagônicos, tão antípodas, e muitas vezes tão parecidos, como siameses, o titular deste aqui que é o mais antigo e mais tradicional blog político do Brasil já realçou de cara a verdade nua e crua: “Bolsonaro faz por ser comparado com Lula, e perde. Ele pediu para apanhar, e apanhou”.

É isso. Bolsonaro passou quatro anos demonstrando cabalmente, exaustivamente que não tem empatia pelas pessoas do país que governava. Ao longo da pandemia que tirou a vida de quase 700 mil brasileiros, não se cansou de demonstrar absoluto desprezo pelas vítimas e suas famílias. Não visitou um hospital sequer uma única vez; debochou dos mortos, dos que temiam morrer.

Pois é.

Então é assim: tinha que comparar? Claro que tinha – até porque a comparação é gritante demais, chocante demais.

Agora, vamos e venhamos: visitar a área atingida, solidarizar-se com as famílias, prometer ajuda ao governador e ao prefeito (sim, de partidos adversários) nas obras de recuperação… Isso é o mínimo que se espera de um governante, não é, não?

O outro não fazia nada disso porque não governava, não trabalhava, não fazia coisa alguma a não ser agir em proveito próprio, para si mesmo e a família.

Até mesmo meu parente petista reconheceu, muito provavelmente sem perceber: “Nosso presidente faz o que precisa ser feito”.

É claro, é obvio: mil vezes, um quatrilhão de vezes melhor um presidente que faz o que precisa ser feito do que o outro que destruiu tudo o que passou à sua frente.

Sem dúvida, Lula está de parabéns por fazer o mínimo que se espera de um governante.

Agora, melhor que aquele outro é fácil, não é mesmo?

Este texto foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 22/2/2023. 

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