Admirável mundo doido

Ora, minhas amigas e meus amigos, estou pensando em me dar menos trabalho para escrever os textos deste nosso blog. Na verdade, já me sinto bem ultrapassado pelas maravilhas correntes nos dias de hoje. Vou dar as iniciais do que estou falando: IA.

Entrementes… (a Inteligência Artificial reconhecerá esta palavra, ou a substituirá por estar fora de moda?). Mas, porém, todavia, entretanto digamos que eu encomende a ela um texto sobre um velho homem, doente, sem dinheiro para remédio, que bate à porta de seu vizinho para pedir ajuda.

A porta se abre.

— O que você quer? – pergunta o vizinho.

— Podia me quebrar um galho?

O vizinho entra em casa e logo está de volta, com um machado na mão.
E como se haverá a IA com expressões como fulano pregou-me uma peça, ou quebrei a cara? Haverá uma reserva de gírias e expressões idiomáticas? A IA não se confundirá com elas? Olha o risco de se dizer que alguém abotoou o paletó – ou seja, bateu com as dez, foi desta para a melhor. E ficar assim:
“O doente abotoou o paletó, agradeceu aos médicos, saiu do hospital e pediu um táxi.”

Hoje, são considerados gênios entre os humanos os que têm Quociente de Inteligência, QI, acima de 140. Qual será o QI da IA? É verdade que na produção industrial a novidade vem se impondo, com expressivos resultados. Mas nessa área, que não trata com miolos humanos, é tudo muito mais fácil. De certa forma, como criar um carrinho de corda que só precisa dar corda uma vez. (Ué, parece que meus ouvidos estão ardendo…).

Para ser justo, admito não estar suficientemente informado sobre essa novidade admirável. Poderá mesmo ser útil para nós autores de textos literários? Como garantir que um futuro Prêmio Nobel da Literatura não seja um compulsivo usuário da IA? Ao receber o troféu entra com um “quero agradecer”… Já sabem a quem.
. . .
Mostrei o texto para uma amiga, ela gostou, mas disse que o episódio do quebra galho e o machado tinha surgido na antiga série de animação Os Simpsons. Como nunca assisti à série, e a cena me ocorreu agora, resolvi mantê-la.

Esta crônica foi originalmente publicada no blog Vivendo e Escrevendo, em 15//4/2023.

 

Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *