A vez dos gordos

Tem gente que gosta de apanhar. Eu não sei por quê, mas tem. Li uma notícia sobre um marido que gostava de apanhar da mulher. Apanhava tanto que os vizinhos chamaram a polícia. 

E no mesmo dia li que os senadores chamaram o ministro Flavio Dino para um questionamento no Senado, isto é, para bater no ministro até dizer chega, e saíram amassados por uma avalanche de ironias, piadas e justas indignações do ministro contra eles. 

No primeiro caso, tratava-se inegavelmente de uma patologia psiquiátrica: o marido provocava a mulher até a loucura para ela descer-lhe o chinelo. E nunca ficava satisfeito, haja visto que volta e meia partia para a provocação e a mulher para as vias de fato, segundo relatos da vizinhança.

Nesse caso, se eu fosse o juiz do caso, consideraria a mulher a vítima e não o marido, dada a canseira e o desgaste de energia que impunha à companheira para moê-lo de cima a baixo. 

No segundo caso, me parece que a culpa é dos senadores. Porque só por gostar muito de apanhar poderiam chamar Dino para um embate. O ministro já tinha demonstrado suas habilidades contra os deputados bolsonaristas tempos antes, quando fora chamado à Câmara. Provocaram à beça e, ato contínuo, levaram pau. Mas os do Senado acharam que podiam com ele, chamaram-no e o que se viu foi uma pândega protagonizada pelo ministro em cima deles. 

Eu se fosse o presidente do Senado, sairia de meus sonolentos aposentos senatoriais para dizer aos meus súditos pares infantis que desistam de incomodar o ministro com questiúnculas descabidas porque vão tomar no couro de novo. 

E não é que estão pensando em chamar o homem outra vez para mais uma refrega? 

Dino está gostando das paradas. As redes sociais já falam nele para 2026 — ao que responde,  diplomaticamente, que já tem candidato. Quem? O presidente Lula, ele responde. E como ninguém acredita, ele diz nas entrelinhas que está se preparando para 2030, mas tal coisa, em duas palavras, estão “muito, muito, mas muito longe”. 

Quem militou na imprensa política sabe que o ministro está tergiversando. Pode ser que eu esteja enganado, mas Lula não aguenta um segundo mandato. E 2025, para a campanha eleitoral de 2026, está logo ali. 

Acho que Dino já papou essa e não vai ter para o Haddad, por melhor que seja sua gestão na Economia, que na minha opinião vai decolar com o tal  arcabouço (que palavrão esse!) e o novo sistema tributário. 

Mas a Economia é algo muito oscilante e sujeita a raios e tempestades. Além do que, o país gosta de gordos. Jô arrancava risos e popularidade por ser gordo. Era muito inteligente, claro. Mas antes de ser inteligente era gordo. Não tem nada mais engraçado do que um gordo inteligente. Leandro Hassum lotou os cinemas e a audiência na televisão enquanto era gordo e inteligente Quando, por razões de saúde, perdeu a gordura, mas não a inteligência, me parece que perdeu também um monte de graça. 

Nelson Merlin é jornalista aposentado e ex-magro. 

11/5/2023

Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *