The day the Queen died

Este é um site de textos, conforme diz o seu nome, e eu sou um sujeito de texto, de palavras. Sempre que posso, gosto de afirmar que ganhei a vida por saber mexer com palavras; virei jornalista não por ter faro de repórter, mas por saber escrever corretamente, e paguei minhas contas, criei minha filha e consegui me aposentar por me dar bem no texto. Mas a verdade é que, diante de Elizabeth Alexandra Mary, não tenho palavras.

Ela é grande mais para mim.

Já escrevi aqui sobre muita gente grande, de Bob Dylan a Roberto Carlos, de Nara Leão a Joan Baez, e tantos e tantos mais. Elizabeth Alexandra Mary, porém, é grande demais para mim.

Mas, diabo, tenho um site-que-parece-um-blog, e como é possível haver um site ou blog neste mundo véio que não tenha um post sobre a Rainha Elizabeth II?

Escolho uma saída esperta, discreta, mineira: vou tascar aqui as capas dos jornais do dia seguinte ao dia em que a Rainha morreu.

Nem trabalho dá. Apaixonado pela parte do jornalismo comparado que é examinar as capas dos diferentes jornais, já busquei na internet e botei no Facebook quatro primeiras páginas de jornais ingleses e três de brasileiros.

É uma forma de homenagear a Rainha. De registrar aqui o adeus à Rainha.

Depois de todas as fotos, talvez – se tiver paciência – aproveite para falar um pouquinho não da Rainha, mas de jornalismo,

Ah, sim, o título. Para o eventual leitor que estranhar o título, ele se remete à letra de “American Pie”, uma das mais belas canções da música popular de todos os tempos.

Diante dessas capas no Facebook, a Rita Tavares, jornalista brilhante com quem trabalhei na Agência Estado, a quem creio que posso com orgulho chamar de minha amiga, comentou:

“Gostei da The Guardian porque é limpa e tem uma luz linda na foto. Agora que absurdo é essa do Daily Mail com a assinatura da matéria enorme. Parece querer competir com a rainha!!!”

Na minha opinião, a capa do Daily Mail é muito boa, com a foto linda e o título apropriadíssimo, nossos corações estão despedaçados. Mas, de fato, como bem notou a Rita, o tamanho da assinatura da moça é absolutamente desproporcional.

Agora, três dos gigantes não britânicos. Vão em tamanho menor porque não consegui as capas em melhor definição.

E chegamos aos três grandes brasileiros.

 

Não é necessário qualquer estudo, não é necessário, de forma alguma, ter assistido às aulas de Jornalismo Comparado da professora Cremilda Medina na Escola de Comunicações e Artes da USP, para perceber o que salta aos olhos:  apenas um desses dez grandes jornais de quatro diferentes países não usou todas as colunas para noticiar a morte daquela que foi a soberana mais longeva do Reino Unido, a última das grandes personalidades públicas do pós-Guerra, uma das figuras mais importantes da cena mundial nos últimos cento e muitos anos.

Apenas um desses jornais enfiou em sua manchete informações secundárias, desnecessárias.

Exatamente o jornalão que pagou meu salário em quase 30 dos meus 35 ou 37 anos de jornalismo dentro das redações.

Tenho horror a falar mal do Estadão. Fica parecendo cuspir no prato em que comeu.

Mas, diabo…

Foi Mary, ela também ex-S.A. O Estado de S. Paulo, primeiro em Brasília, depois em São Paulo, que definiu bem a coisa.

Comentou ela comigo – e botei no Facebook, e muita gente gostou:

Os editores do Estadão perderam o sentido, o significado do jornal de papel. Entenderam que a notícia da morte da Rainha já tinha sido dada no online, e no papel seria preciso avançar, acrescentar algo à frente.

E aí puseram na manchete essa frase idiota – “Charles III herda ameaças de secessão”. Meu (e aí sou eu falando), a ameaça de secessão já existia uma semana atrás, um mês atrás, um ano atrás. A Escócia ameaça deixar o Reino Unido desde quase sempre – e depois do Brexit a ameaça aumentou muito. Fato que tem mais de um ano não é notícia, meu Deus do céu e também da Terra!

Volto ao argumento da Mary:

Os atuais editores do Estadão não compreenderam que o papel do jornal de papel, nesses dias especialíssimos, é destacar o histórico. Para ser guardado por quem ainda guarda papel em casa.

MEN WALK ON MOON, em oito colunas, e pronto, como fez o New York Times.

Nove dos grandes jornais do mundo manchetaram com o que é de fato importante. Só o Estado veio com manchete que não é a página inteira, e ainda por cima é errada.

Que pena, meu Deus.

9/9/2022

Um comentário para “The day the Queen died”

  1. Um presente para nós leitores a matéria acima, com as reproduções das capas de jornais, incluindo… aquela! Sérgio e Mary merecem parabéns.

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