Questão de flores e pinceladas

Um rapaz com gosto pelas criações da natureza, especialmente flores, que via como um adorno da Humanidade. Estava justamente em uma floricultura, quando uma moça muito bonita entrou. Num impulso, apanhou um buquê de flores e o ofereceu a ela. O que disse a agraciada?

– Obrigado, moço. Seu gesto me encanta, mas está tratando com a pessoa errada. Não gosto de flores.

– Mas… Foi tudo o que o presenteador conseguiu articular.

Ela, então, sentiu necessidade de se explicar.

– Flores para mim são como qualquer planta que brota da terra. Com a desvantagem de que não alimentam, como trigo ou chuchu.

– Mas você veio a uma floricultura…

– Aqui também vendem alimentos naturais, amendoim, pipoca doce…

Ele plantado com o buquê nas mãos.

A dona do lugar procura amenizar a situação.

– Pode me devolver o buquê, não se preocupe.

O rapaz parece magoado. Pergunta à moça:

– Você nunca ouviu falar de Holambra, uma cidade do interior de São Paulo, que produz flores…?

A moça foi cuidadosa. Era boa pessoa.

– Não, sinto muito. O que gosto mesmo é de arte…. Você já esteve no Masp?

– Sim, mas só no vão. Um protesto contra a construção de um prédio de vinte andares no Parque do Ibirapuera.

Ela fala sobre o que está acima do vão, as obras dos grandes mestres da pintura se oferecendo à observação e ao deleite. Isto, pelo menos, não lhe era novidade.

– Meu avô tinha verdadeira paixão pela arte. Era italiano, trouxe o gosto de lá. Tentou fazer com que eu me interessasse, mas eu…

– Curioso, comigo foi o mesmo. Minha mãe ama as flores, e eu…

Breve silêncio. Então ela diz: – Faço-lhe uma proposta. Vamos ao Masp para eu lhe mostrar as mais importantes entre as obras expostas. Depois você me leva a algum lugar da cidade, para eu conhecer as flores mais bonitas.

Fechado. Irão às floriculturas do Largo do Arouche, em pleno centro de São Paulo. E de repente…

– Sabe do que esquecemos? – diz ele. – De nos apresentarmos! Qual é seu nome?

– Violeta.

– Mas…

– E o seu?

– Michelangelo.

– Oh!

Esta crônica/conto foi originalmente publicada no blog Vivendo e Escrevendo, em agosto de 2022

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