Claro que essa frase é pura ironia em resposta a uma mentira escancarada. Ninguém gosta de ser enganado, exceto os fanáticos que adotam um político de estimação e que acreditam cegamente no mito escolhido.
O presidente Jair Bolsonaro lotou um avião com um pelotão do Exército mais o filho 03 (ainda não se sabe se esse número lhe foi atribuído pela ordem de nascimento dele em relação aos irmãos ou se pelo resultado do teste de QI), Carlos Bolsonaro, escolhido como coordenador de campanha encarregado de distribuir fake news, digo, de publicar notas nas redes sociais, e foi pra Rússia tratar de assuntos comerciais, segundo a assessoria.
Quer dizer que o cara sai daqui carregando essa gente toda pra ir a um país que está em pé de guerra só pra comprar fertilizantes? Ora, por que não foi numa Agro qualquer na esquina de casa?
Brincadeirinhas à parte, todos sabem que a Rússia é um grande fornecedor para o agronegócio brasileiro, mas o que chama a atenção é o momento turbulento que ele escolheu para fazer essa visita, apesar de agendada com antecipação.
Teria sido tudo de caso pensado? Pelos comentários de especialistas, sim!
Ele teria ido para fazer fotos pra usar na campanha eleitoral e, possivelmente, pedir para Putin mexer os pauzinhos como fez na eleição de Trump. Quem sabe o filho da Putin, ops, quem sabe Putin consegue fazer com seu adversário aqui no Brasil o mesmo que fez com a Hillary lá nos Estados Unidos? (E, cá entre nós, pros hackers russos destruírem a imagem do adversário de Bolsonaro, é mamão com açúcar).
Não seria nenhuma surpresa, já que o candidato e sua equipe estão contando com a ajuda virtual do Telegram, versão russa do WhatsApp, para espalhar merda no ventilador durante a campanha eleitoral.
Só pra se ter uma ideia do que vem pela frente, correligionários e torcidas organizadas em geral já começaram a aproveitar essa ida de Jair Bolsonaro à Rússia para lançar a imagem de um presidente influente que conseguiu “evitar uma guerra”.
O ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, abusando da impunidade sobre divulgação de fake news, tascou uma montagem de capa com logo da CNN onde aparecem os dois presidentes com a legenda: “Putin sinaliza recuo na Ucrânia, presidente Bolsonaro evita terceira guerra mundial”.
Já se sabe que esse ex-ministro é fogo (sem querer fazer trocadilho), mas essa foi demais até mesmo pra ele. A CNN teve de vir a público desmentir a “notícia”.
Esse obsessivo interesse pelo encontro com Putin fez até com que Jair Bolsonaro enfiasse seu negacionismo no bolso do jaquetão e se submetesse a sucessivos testes de Covid. Além disso teve de ficar confinado num quarto de hotel. (Baita quarto, aliás. Uma suíte de mais de 300 metros com banheiro de mármore para ele poder “chorar” com todo o conforto que um presidente que tem um cartão corporativo sigiloso nas mãos merece). Não pôde nem sair pra comer um pedaço de pizza na calçada, coitado! E ainda precisou fazem homenagem a um soldado desconhecido COMUNISTA, quem diria! (Indagado sobre isso, declarou: “Soldado é soldado”).
Mas todo esse sacrifício valeu a pena. No dia seguinte vestiu seu melhor terno, calçou seu melhor coturno e foi, finalmente, se encontrar com Vladmir Putin. Ficaram sentados lado a lado, sem aquela incômoda mesa de 6 metros que separaram alguns interlocutores. Nesse encontro Bolsonaro, que foi aconselhado a não abrir muito o bico pra não cometer gafes, não se conteve e disse: “Somos solidários à Rússia”.
Nós quem, cara pálida?
O que exatamente ele quis dizer com isso? Que se Putin invadir a Ucrânia, mandaremos nossos tanques de guerra pra fazer fumaça por lá?
Não tem jeito! Por onde quer que vá, Bolsonaro sempre deixa a impressão de que considera o mundo um enorme cercadinho onde pode falar bobagem à vontade.
Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 18/2/2022.