Crônica de um dia infeliz

Comecei o dia com minha dentista chegando 25 minutos atrasada. Ela só lembrou de mim porque o zelador do prédio ligou pra ela. Quando ela chegou tive vontade de perguntar: dormiu ou tomou laxante demais?

Depois me picou a língua com a broca no primeiro lançamento na área do primeiro tempo. Depois foi a vez da gengiva. Pedi tempo com a mão. Aproveitei e perguntei se ela tinha uma bolsa de sangue para repor caso eu precisasse. Ela riu e falou não estava sangrando tanto assim (na minha cabeça eu me imaginava puxando o sangue com um largo rodo e enxugando com grossas toalhas de banho). Porém já fui logo avisando: Meu sangue é tipo “A”-peritivo!

Não bastasse nada, depois de moer 12 brocas ela desistiu de cortar minha prótese para acessar os pinos do implante. Nada perfurava aquilo. Peritos estiveram no local! (Essa frase dos peritos eu realmente gosto.) Falou para eu voltar quando ela receber a moto-serra. Lembro que na ocasião o dinheiro no Brasil era o Cruzélia e paguei bem caro pela prótese, que, se não me engano, foi feita de Kryptonita e a porcelana é da dinastia Ming.

Definitivamente preciso de um pai de santo para me benzer.

Depois disso o sensato a fazer era ter me enfiado embaixo da cama e aguardado pelo outro amanhecer, quando normalmente “atiram” duas caçambas de obra em minha porta dando as boas-vindas ao novo dia que chegou.

Mas erroneamente quis enfrentar a vida e seguir minha jornada; afinal, tinha traçado valiosos planos em fazer uma torta de frango e tomar meu uisquinho ouvindo música a todo vapor.

O que seria uma “coqueluche” se transformou num conto de terror. Afinal ontem foi um longo dia, deu tempo inclusive de eu notar o desaparecimento misterioso de dois anos de e-mails. Depois disso, quando fui pegar gelo para me medicar, notei que a geladeira havia pifado! Até aí tudo bem – o duro era a falta de gelo. Quis logo resolver essa situação. Olhei em volta, mas não havia nenhuma forca e desisti.

Penso que não era meu dia. Se tivesse achado a forca suponho faltaria o banquinho…

Hoje cedo, enquanto escrevo essas mal traçadas linhas, a faxineira quebrou o aspirador. Knock Down!

Não sabia que uma geladeira era tão importante. Dediquei minha confiança a ela todos estes anos, deixei com ela meus queijos, iogurtes, cervejas e “em segredo” o sorvete Haagen Dazs que ela mantinha sob minha total confiança. Como fui tolo!  E ontem, sem aviso algum, parou de gelar. Outra decepção. Fui traído sem o mínimo escrúpulo.

Chamamos a Porto Seguro às 17h. Ficaram de vir em caráter de urgência (afinal, avisei sobre o sorvete), and guess what? Nos deram o cano.

Como não sou de levar prejuízo pra casa, pensei: vou reverter esse quadro, já chega aquele 7 a 1 que me assombra as noites de inverno até hoje, e sem maiores indagações eu decidi! Vou comer tudo que tem lá dentro. Confesso que estou indo bem, bebi 26 cervejas, quatro águas de coco e um Haagen Dazs.

Agora faltam só quatro tabletes de manteiga. rsrrs… Ah…e quanto ao aspirador? Dei graças a Deus. O bicho tinha um barulho infernal, pior que motor de balsa. Orem por mim. 🙏🏻

Fevereiro de 2022

(*) Fábio De Domenico é em geral um sujeito de sorte – e sempre bem-humorado. 

4 Comentários para “Crônica de um dia infeliz”

  1. Excelente texto, claramente um otimista bem humorado.

  2. Pessoal, passando apenas para agradecer a grande corrente de orações. Já temos geladeira funcionando e hoje a dentista conseguiu acessar os pinos da prótese. Disse que em 2 ou 3 dias volto a andar normalmente.

  3. Parabéns, um texto bem divertido de um cotidiano que muitas vezes nos cerca.
    E bem extremista kkkk . Ainda bem que não tinha a corda, queremos muito o amigo.

Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *