Inflação não é café pequeno

Para o atual inquilino do Palácio do Planalto, a inflação que a população está tomando no lombo, de 12,1% no acumulado em 12 meses, não é nada. Os efeitos não são mais que menores, diz, parecendo um lunático recém-chegado ao planeta. Deve ser porque a vida anda muito boa em palácio – seja no do Planalto, seja no da Alvorada.

Certamente está, a julgar pelas despesas do cartão corporativo da Presidência da República informadas de vez em quando por ela mesma: no último mês divulgado, passou de R$ 4 milhões. Dinheiro que a população pagou para manter a família presidencial por somente 30 dias.

A vida nas Forças Armadas também vai de boa a melhor. Eis que, segundo as últimas informações oficiais, foram gastos pencas de milhões de reais em comprimidos de Viagra e próteses penianas, generosamente fornecidos pela mesma população a que me referi acima. E até agora não explicadas devidamente. O que me leva a pensar que não tem explicação.

A chuva de dinheiro na horta do governo central não pára por aí. O Congresso Nacional (leia-se PP) está regando com bilhões e bilhões de reais seus currais eleitorais – os seus, os do inquilino do Planalto, os dos ministros de Estado sedentos para ser eleitos a alguma coisa, e outros mais do arranjo local do inquilino e seu partido político, agora o PL de Valdemar Costa Neto, aquele mesmo que passou uma boa temporada na cadeia cumprindo pena pelo mensalão do PT, PP, PL e outros mais, agora todos, exceto o primeiro, na base aliada do governo que se elegeu com a bandeira do fim da corrupção para sempre.

Vão todos de vento em popa, enquanto a inflação se dissemina pelos produtos da cesta básica e não básica como uma febre. Essa disseminação é chamada pelos técnicos de difusão e mede o quanto a inflação se espalhou pela economia. Este indicador chegou a 78,3%, quando antes da pandemia era de 43%, um valor já muito alto por si só. Numa inflação sob controle, baixa ou moderada, a taxa de difusão é zero ou perto de zero. E quanto mais alta, maior a contaminação. Tudo sobe de preço porque os preços estão subindo. Uma tautologia que se retroalimenta, como a hidra de sete cabeças.

Não é café pequeno. Não adianta dizer que foi por causa da seca, da pandemia, do dólar, da guerra na Ucrânia, do escambau. A maior causa de inflação é sempre o governo, o único emissor de moeda e emissor de dívida. Inflação não é causa, mas efeito. Ensinam os livros de economia e as melhoras cabeças dessa especialidade. Uma das melhores, aliás, é o falecido avô do atual presidente do Banco Central. É o que ele dizia. Não adianta aumentar os juros se o governo não corta na carne os seus custos. Aumentar juros é enxugar gelo. São os custos do governo que jogam a inflação para cima. É ele, de longe, o maior gastador da República. É ele que tem que cortar seus custos e não a população, que passa fome em sua maior parte. Não se vê nenhum dos órgãos oficiais cortando custos. Ao contrário, gastam cada vez mais.

E gastam a maior parte em porcarias. É hora de Viagra e pênis ereto? É hora de picanha, lagostas, uísque e caviar? Enquanto grande parte da população toma sopa de ossos comprados no açougue por R$ 9,99 o quilo? Nem para esquentar a sopa tem dinheiro, porque o gás ficou ainda mais caro que a comida. Tem que tomar o caldo frio.

Eu sei que pior de tudo é a guerra na Ucrânia, milhões de pessoas com suas casas e edifícios destroçados pelas bombas e mísseis de um louco. Milhares de vidas inocentes perdidas por motivo torpe. Temos que lamber os beiços por não termos um doido nas nossas fronteiras.

Mas tem um aqui dentro. Solidário com o russo. Se é manso ou de pedra, não importa. Com eles todo cuidado é pouco.

Nelson Merlin é jornalista aposentado e indignado. 

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