Carlinhos, no diminutivo, assim é que era chamado o grande Carlos Brickmann, o domador de palavras. Brincava com elas em textos brilhantes, assim como brincava com a vida.
Nos conhecemos quando eu era ainda meninota e ele um meninão alguns anos mais velho que eu. Brickmann fazia parte do time mais descontraído e mais profissional que uma redação de jornal poderia ter. Essa era a turma do Jornal da Tarde, que reuniu uma moçada ávida para mostrar que o jornalismo pode ser, sim, uma mistura de informação verdadeira com leveza de espirito mesmo quando a notícia é ruim.
Naquela época eu fazia cursinho no Objetivo e quando não tinha aula o dia todo ia pra redação do JT na Major Quedinho esperar pelo Sandro. Quando não ia ao cinema com meu outro amigo que partiu muito cedo, o Flávio Márcio, ia pra mesa do Carlinhos pra gente disputar arremesso de bolinhas de papel ao lixo ou para competir com as piadas infames sobre qualquer assunto que nos vinha à.cabeça.
Carlinhos era um aprontador. No meu casamento com o Sandro levou, como todos, arroz pra jogar na noiva, como mandava o figurino. Mas pra ele, jogar um punhado de arroz era pouco, então preferiu despejar o pacote inteiro dentro do meu vestido.
E por essas e mais outras, a cerimônia de seu casamento com a Berta foi marcada por várias aprontadas de amigos que já tinham passado por algum perrengue em suas mãos. Uma delas, me lembro bem, foi o espanto das senhoras distintas, em roupas de gala, subindo as escadas da Sinagoga “espoucando”. Pouco antes da cerimônia, os amigos espalharam traques na escadaria que explodiam assim que tocados pelos pés dos convidados.
Depois do Jornal da Tarde o contato foi ficando menor, mas a amizade e o carinho um pelo outro continuaram.
Quando estava vivendo o pior momento da minha vida com o Sandro internado no Hospital Nove de Julho, aproveitei o espaço entre a visita da manhã e a da tarde na UTI para ir ver o Carlinhos no Sírio-Libanês, ali pertinho de onde eu estava.
Encontrei-o sentado, almoçando. Não podia andar porque tinha sofrido uma queda inexplicável da cadeira e os médicos procuravam por algum problema neurológico que pudesse justificar o tombo.
Mas, apesar de não estar andando, ele não aparentava sequelas de algum eventual acidente vascular ou coisa assim. Continuava o piadista de sempre, apesar das circunstâncias.
Depois disso, só no encontramos ao vivo mais uma vez num almoço do turma do JT.
A gente trocava mensagens, via WhatsApp, mas últimamente elas estavam rareando. Porém, quando nos falávamos, parecia que estávamos continuando uma conversa ocorrida no dia anterior.
Era sempre bom falar com ele. Era sempre divertido estar com ele.
Quem conviveu com Carlinhos sabe o tamanho da falta que vai fazer por aqui. Grande Carlinhos! 🖤
17/12/2022