Camilo ministro

Governadora do Ceará em fim de mandato, Izolda Cela tinha todas as credenciais para ser ministra de Educação. Seu nome está ligado às reformas educacionais do Ceará, responsáveis por levar o ensino fundamental do Estado a dar um salto no ranking nacional. Hoje 87 das 100 escolas do ensino fundamental com melhor desempenho são cearenses.

Tudo começou com a experiência pioneira do município de Sobral, quando foram criadas as bases metodológicas de um programa inovador: a Alfabetização na Idade Certa. Izolda era a secretária municipal da educação que fez de Sobral uma referência nacional.

A experiência de Sobral foi generalizada para o Estado no governo de Cid Gomes, com Izolda como secretária estadual de Educação. Iniciava-se ali um inédito programa de colaboração entre o Estado e os 184 municípios cearenses para melhorar os indicadores de alfabetização. A chave do programa foi a combinação entre mecanismos de incentivo e apoio a professores e gestores, agentes implementadores das mudanças no funcionamento das escolas. Na sua gestão o modelo combinava uma saudável competição com a necessária colaboração entre os entes federativos, e uma descentralização coordenada.

Camilo Santana faz parte do sucesso desse modelo educacional. O ex-governador do Ceará, que passou a faixa para Izolda, sua vice, tem fama de bom gestor e de capacidade de diálogo. No seu mandato como governador o ensino integral teve forte expansão no Ceará. Nesse sentido, não é um estranho no ninho nas questões da educação. Ao contrário, tem compromisso, foco e experiência.

As escolhas de Santana como Ministro de Educação e de Izolda como secretária do Ensino Básico indicam que ficaram para trás os tempos de ausência de protagonismo do MEC, de perda de foco na aprendizagem, de polarizações ideológicas estéreis, de apagão na educação.

Lula acertou ao escolher a dupla para comandar o ensino básico brasileiro. Sinalizou que a prioridade do seu governo é a aprendizagem de nossas crianças e adolescentes, com foco nos resultados. Demonstrou também que, em uma pasta tão estratégica para o país, a escolha da equipe do Ministério deve se pautar na experiência, competência e compromisso com a educação.

A escolha de Camilo cria uma sensação de alívio ainda que Izolda Cela tenha sofrido vetos políticos. Primeiro, por Ciro Gomes, que a impediu de disputar a reeleição pelo PDT. Agora, pelo PT, no momento em que parlamentares e lideranças petistas divulgaram uma carta contra sua escolha. Izolda foi preterida ao cargo de ministra, ainda que tenha servido ao governo do PT de forma fidedigna, por não ser uma petista de carteirinha.

Gestores educacionais do porte de Izolda não surgem da noite para o dia. Um país que tem tanta carência não se pode dar ao luxo de tratá-los com desrespeito.

Esse tipo de sinalização acende a luz amarela de alerta.

A educação, que nos últimos quatro anos foi duramente afetada por um viés ideológico, não pode ser refém de disputa política mesquinha.

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 21/12/2022. 

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