Embora o caráter de cada um dos dois candidatos da polarização já seja manjado por grande parte da população brasileira, a gente ainda acaba se surpreendendo com as declarações de um e do outro.
Ia até comentar a entrevista do Lula no Jornal Nacional, mas agora já ficou tudo tão ultrapassado diante dos novos embates que nem vale a pena voltar a fita, a não ser para mencionar o tamanho do salto alto que ele usou diante de William Bonner e da Renata Vasconcelos. Todo confiante na sua provável vitória, passou pano para si próprio durante toda a entrevista e, cheio de amor pra dar ao povo, num rompante de um “eu se amo”, disse: “Preferia ficar em casa, vivendo os louros de ter sido o melhor presidente que o país já teve”.
Teve quem acreditou, eu acho. Tem louco pra tudo.
O melhor da festa aconteceu, porém, alguns dias depois, quando os candidatos à Presidência da República se confrontaram na TV Bandeirantes. Aí teve briga de foice no escuro pra valer. Facas, facões, canivetes, espadas e tiros de espingarda em forma de palavras atravessavam o palco.
Sobrou até pra jornalista Vera Magalhães que, segundo o candidato Jair Bolsonaro, não deveria fazer perguntas, especialmente as que o atingem pessoalmente. E como cidadão do bem, temente a Deus, educado, com absoluto controle de suas emoções, lançou uma série de “elogios” à moça.
Mas, como todo mundo já comentou as entrevistas e o debate, vamos esperar pelos próximos encontros. Só que como não vai ter mais debates antes do segundo turno, a gente pode ficar imaginando como seria um confronto entre esses dois, sem mediadores e sem jornalistas:
BOLSONARO: Escuta aqui, ô ex-presidiário, você acha que vai ganhar de mim e continuar roubando o país?
LULA: Olha como fala comigo, futuro presidiário. Você acha que vai ganhar pra poder mandar na Polícia Federal e não deixar que ela investigue sua família?
BOLSONARO: Minha família é sagrada. Minha mulher é evangélica e tem feito um belo trabalho como primeira-dama, não viu não, bandido?
LULA: Que trabalho? Tá limpando os vidros do Palácio da Alvorada? Çabe (pra mim, Lula fala sabe com cê cedilha), primeira-dama tem de ficar perto dos pobre. Ajudar os pobre, çabe. O que ela fez com os 89 mil que recebeu do Queiroz? Deu pra alguém? Aposto que gastou tudo com o maquiador dela.
BOLSONARO: Não fala assim da minha mulher, poha. Se for mexer com minha família vou falar dos negócios do Lulinha!
LULA: Ah, é? Fala então que aí a gente conversa sobre os 107 imóveis que você e o resto da família compraram, sendo que 51 deles com dinheiro vivo.
BOLSONARO: E daí? O que tem comprar imóvel com dinheiro vivo? Não sou banco!
LULA: Vai me dizer que não praticam rachadão, péra, rachadinha? Confundi com mensalão, petrolão, essas coisa.
BOLSONARO: E o que é uma rachadinha perto do que você desviou da Petrobras, cara? E tem mais: eu nunca mandei dinheiro pra Cuba construir o Porto de Marielle. Epa! Esse nome pertence a outra história que inventaram pra me derrubar. Quis dizer Porto de Mariel. E além de tudo você mandou dinheiro pra Venezela (sic) que eu sei.
LULA: Çabe, Bolsonaro. Você não pode me atacar por simpatizar com ditaduras de esquerda porque você é um puxa-saco do Putin. Até foi lá falando que ia negociar fertilizantes mas no fundo foi mesmo pra dar seu apoio e incentivar ele a meter bomba na Ucrânia. (Aliás, essa Ucrânia se tivesse ficado quieta no seu canto não estaria sendo destruída agora. Quando um não quer dois não brigam.)
BOLSONARO: Tá acabando o nosso tempo e eu quero finalizar aqui te desejando todo o azar do mundo e que você vá tomar no Cuba de barquinho.
LULA: Desejo o mesmo pra você, seu filho da Putin!
Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 2/9/2022.