No domingo que passou assisti ao último capítulo da primeira temporada da série brasileira “Bozolândia e as Eleições”.
A série trata de uma corrida eleitoral que acontece a cada quatro anos neste país situado, em sua imensa maior parte, abaixo da linha do Equador.
Nessa eleição são escolhidos, ao mesmo tempo, os deputados federais, os estaduais, senadores, governadores e o presidente.
Até aí, tudo normal. Acontece sempre nas democracias. O problema são as preliminares dessas eleições.
No atual governo existe um gabinete de fake news especializado em espalhar merda via WhatsApp para os eleitores incautos. Fofocas cabeludas surgem e se espalham encorajando os eleitores a votar em massa nos candidatos ligados diretamente à Bozolândia.
Tanto fizeram que conseguiram, e candidatos sem preparo ou com antecedentes nada favoráveis a eles acabaram sendo eleitos. Na série, alguns exemplos são citados e repasso aqui pra vocês.
Para deputado federal, três dos eleitos mereceram destaque:
Eduardo Pançuello, ex-ministro da Saúde do atual governo. Durante sua gestão foi acusado de ter negado oxigênio para os doentes de Covid, de ter atrapalhado a compra das vacinas, de ter deixado estragar estoques de imunizantes esquecidos em galpões, de ter mandado o Laboratório do Exército fabricar toneladas de hidroxicloroquina, remédio que só serviu para encher os bolsos de alguns. Além de se confessar capacho do presidente, ao declarar com orgulho: “Um manda, outro obedece”.
Ricardo Sallesman, ex-Meio Ministro, digo ex-Ministro do Meio-Ambiente, que fez uma verdadeira liquidação da Floresta Amazônica deixando “passar a boiada”, ou melhor, as toras de madeira abatidas irregularmente pelos seus amiguinhos madeireiros.
Mário (aquele) Frias, ex-secretário de Cultura do governo, também conhecido como Regino Duarte pelo puxa-saquismo exacerbado ao chefe. Em sua gestão barrou centenas de projetos de incentivo às artes porque o presidente acha que não tem de dar dinheiro pra “esses vagabundos”. Mesmo sendo muito malvisto pela classe artística e por grande parte da população que aprecia a arte, conseguiu se eleger. Mais um exemplo de gente que nasce com a bunda virada pra cima. Nesse caso, literalmente. Até já a expôs dessa forma na capa de uma revista masculina.
No Senado, alguns eleitos mereceram destaque na série, não exatamente pelos seus feitos durante suas gestões, mas por influências WhatsAppinianas. A candidata que sonha com um mundo onde meninos vestem azul e meninas vestem rosa já está pensando em chegar ao topo da goiabeira, arrebentando o galho hoje ocupado por Rodrigo Pacheco. Amadrinhada pela primeira-nada, a candidata estourou a boca do balão, digo, da urna, com um avantajado número de votos. (Tô começando a achar que Michelle invoca os poderes de Greiscow quando dá pulinhos ou fala aquela língua estranha.)
O outro da turma também eleito foi o ex-ministro da Ciência e Tecnologia Marco Tonho da Lua Pontes. O “astronauta” ganhou esse apelido depois de ter ido ao espaço em 2006. Já aqui na Terra teria, no cargo de ministro, inventado uma vacina brasileira contra a Covid, que ainda está em fase de estudos. Quem sabe na próxima pandemia (toc, toc, toc) ela já esteja pronta.
Sobre outros dois eleitos, um era preso por um cordão umbilical ao presidente e outro já foi um servidor do chefe da Nação onde atuou como ministro da Justiça. Em 2020 acabou saindo antes de terminar seu contrato, por discordar dos troca-troca de diretores da Polícia Federal que investigavam as roubalheiras da família presidencial. Mas isso são mágoas passadas. Hoje como senador eleito já declarou seu amor ao presidente e ofereceu todo apoio para que continue no poder e assim proteger sua sagrada família. (Se esses dois se juntarem no Senado poderiam até formar uma dupla sertaneja pra alegrar a casa. Fica a dica de nome para a dupla: Moro & Mourão).
A segunda temporada da série já começou e está sendo marcada por acusações mútuas entre os dois candidatos à Presidência da República. E daqui pra frente parece que só vai piorar. São esperados embates violentos entre o candidato ex-presidiário e o candidato possível futuro-presidiário, caso perca a eleição.
Infelizmente não posso dar spoiller porque essa temporada ainda está nos capítulos iniciais e só termina no dia 30 de outubro.
Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 7/10/2022.