As crianças contra o dragão da maldade

Exatamente no momento em que o desgoverno do Capitão das Trevas fez o que talvez seja o mais patético de todos os seus gestos a favor do coronavírus – a divulgação da “nota técnica” dizendo que o kit covid é eficaz e a vacina, não –, milhares e milhares e milhares de crianças saíam alegrinhas dos postos de vacinação Brasil afora, e os pais, orgulhosos, aliviados, felizes, publicavam suas fotos nas redes sociais.

Não poderia haver vingança melhor dos brasileiros contra o dragão da maldade que é esse desgoverno.

Seria desnecessário fazer um amplo retrospecto das ações do desgoverno federal contra a saúde e a favor do vírus, ou das declarações e atitudes do sociopata ao longo destes últimos dolorosos dois anos em que mais de 620 mil vidas de brasileiros foram perdidas. A CPI da Pandemia fez um levantamento exaustivo dos danos causados pelo desgoverno, e estão na memória da gente várias das declarações monstruosas do sujeito.

Mas também não faz mal lembrar algumas das muitas excrescências que saíram da boca do idiota:

* “Tem a questão do coronavírus também que, no meu entender, está superdimensionado, o poder destruidor desse vírus.” (Março de 2020.)

* O que eu ouvi até o momento [é que] outras gripes mataram mais do que esta.” (Março de 2020.)

* “Muitos pegarão isso independente dos cuidados que tomem. Isso vai acontecer mais cedo ou mais tarde. Devemos respeitar, tomar as medidas sanitárias cabíveis, mas não podemos entrar numa neurose, como se fosse o fim do mundo.” (Março de 2020.)

* “Esse vírus trouxe uma certa histeria. Tem alguns governadores, no meu entender, posso até estar errado, que estão tomando medidas que vão prejudicar e muito a nossa economia. (…) A vida continua, não tem que ter histeria.” (Março de 2020.)

* “Depois da facada, não vai ser uma gripezinha que vai me derrubar, não.” (Março de 2020.)

* “Eu acho que não vai chegar a esse ponto [do número de casos confirmados nos Estados Unidos]. Até porque o brasileiro tem que ser estudado. Ele não pega nada. Você vê o cara pulando em esgoto ali. Ele sai, mergulha e não acontece nada com ele.” (Março de 2020.)

* “Parece que está começando a ir embora essa questão do vírus, mas está chegando e batendo forte a questão do desemprego​.” (Abril de 2020.)

* “Eu não sou coveiro.” (Abril de 2020.)

* “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre​.” (Abril de 2020.)

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Nossa Mãe do Céu, é impressionante a quantidade de estupidez que o cara falou!

Recolhi essas frases todas de um belo, exaustivo levantamento feito pela Folha de S. Paulo ainda em março do ano passado. Todas elas foram ditas pelo presidente da República entre março e abril do ano retrasado, 2020 – e eu selecionei apenas algumas das que a Folha publicou e que foram ditas nesse pequeno período!

É uma loucura, é inacreditável!

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Mas o pior é que o sociopata e seu desgoverno não param nunca de acrescentar novos absurdos, novas loucuras inacreditáveis às que já haviam feito. E, nos últimos dias, eles conseguiram a proeza de apresentar essas duas novas aberrações – a nota do Ministério da Saúde contra a vacinação e a felicidade histérica diante da possibilidade de que a vacina tivesse feito uma vítima na cidade de Lençóis Paulista.

O inacreditável episódio da “nota técnica” é para entrar na História.

A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) havia feito uma contra-indicação do chamado “kit covid”, ou tratamento precoce, em pacientes em regime ambulatorial, ou seja, que não estão internados.

Essa, sim, foi uma decisão técnica, baseada em critérios científicos.

Mas o “kit covid” é uma obsessão do sociopata que preside o país, e então o secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Hélio Angotti Neto, distribuiu uma “nota técnica” afirmando que vacinas contra a Covid-19 não têm efetividade nem segurança demonstradas, mas que a hidroxicloroquina tem.

A afirmação, é claro, contraria posição da Organização Mundial de Saúde (OMS), da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e dos especialistas.

As mais diversas associações de profissionais da área da saúde já se pronunciaram firmemente contra o total absurdo que é a tal “nota técnica”.

Mas não adianta. O presidente da República quer porque quer manter o maldito “kit Covid”, e então aí está a “nota técnica”.

O caso da histeria do governo em torno do episódio da garota paulista que teve parada cardíaca é tão espantoso, chocante, absurdo quanto o da nota técnica. Eliane Cantanhêde disse tudo sobre esse caso em seu ótimo artigo deste domingo, 23 de janeiro, em O Estado de S. Paulo, e então tomo a liberdade de transcrever logo abaixo seu texto. Tenho certeza de que a Lili não achará ruim.

Só gostaria, antes de passar a palavra para ela, de repetir: que maravilha ver que os brasileiros não dão a menor importância para as imbecilidades que o desgoverno do Capitão da Morte diz ou faz contra as vacinas!

Que maravilha ver as fotos das crianças sendo vacinadas!

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Para Bolsonaro, Queiroga e Damares, parada cardíaca de criança vacinada seria troféu

Por Eliane Cantanhêde, O Estado de S.Paulo, 23/1/2022

De todo o show de horrores da pandemia, poucos conseguem ser piores do que a tentativa de usar uma menininha que teve parada cardíaca em Lençóis Paulista como troféu na campanha contra a vacinação de crianças. É vil, indigno, imoral.

Sempre indiferente, o presidente Jair Bolsonaro telefonou diligentemente para os pais da menina, que teve a parada horas após receber a vacina contra a covid-19. Logo ele, que nunca deu uma palavra de consolo para as famílias dos mais de 620 mil adultos e de 1.400 crianças mortos pela doença – o que ele acha pouco.

Quando o Brasil atingiu 10 mil mortos, Bolsonaro foi passear de jet ski no Lago Paranoá, em Brasília. Com mais alguns milhares, deu de ombros: “E daí? Todo mundo vai morrer”. E, depois de trabalhar contra a vacinação de adultos, faz campanha aberta contra a de crianças. Não se vacinou nem vacina a filha.

Então, por que ligou para os pais da menininha? Para se solidarizar? Manifestar empatia? Não. Só ligou para saber o quanto a dor e o susto deles lhe poderiam ser úteis, o quanto poderiam comprovar que vacina é perigosa. Na próxima live, diria: “Viu? Eu não disse?”

Fiéis coadjuvantes, os ministros Marcelo Queiroga, da Saúde, e Damares Alves, da Mulher, Família e Direitos Humanos, saíram em desabalada carreira atrás da família. Frustração. A menina se recupera bem e a parada foi por uma síndrome congênita, sem relação de causa e efeito com a vacina.

O Sindicato dos Médicos do Rio e a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) pediram o impeachment de Queiroga na Câmara e a CNBB se uniu a cinco entidades num pacto pela vida das crianças. O Ministério da Saúde demorou três semanas após a autorização da Anvisa para admitir a vacinação de 5 a onze anos, inventando bobagens. E as aulas começam em fevereiro.

O ministério de Queiroga também enviou nota técnica para a Anvisa empurrando toda a responsabilidade pelos autotestes para as farmácias. Depois, derrubou as diretrizes da sua própria comissão técnica contra o tal kit covid. E faz corpo mole para a Coronavac em crianças. Sem plano, estimativa de doses, cronograma, logística.

E a Ômicron definitivamente não é “bem-vinda”, como Bolsonaro chegou a dizer, tanto que os hospitais estão lotados, as mortes voltaram a subir e Rio e São Paulo acabam de adiar os desfiles de escolas de samba no Carnaval.

É preciso vacinar nossas crianças o mais rápido possível. Ao contrário do que Bolsonaro diz e Queiroga se esforça para comprovar, vacina contra covid não é experimental. É testada, segura e eficaz. Salvem seus filhos, papais e mamães do Brasil!

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Felizmente, os papais e mamães estão fazendo tudo certinho, Lili. Apesar dele. Contra ele.

Vamos sair dessas duas pestes tenebrosas. Os brasileiros somos demais.

23/1/2022

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