Em 1990, a vidente Mãe Dinah surpreendia o País com suas previsões. Estava na tevê, e tinha coluna em jornais. Previu que o Brasil não ganharia a Copa do Mundo, tampouco Ayrton Senna o Grande Prêmio de Interlagos – o que de fato aconteceu. Previu também a morte dos músicos do conjunto Mamonas Assassinas. Outras tantas previsões, no entanto, não se confirmaram.
Agora temos Pai Zuello. Este inefável senhor teve carreira oposta à de Mãe Dinah. Sua fama veio não do que previu, mas do que deixou de enxergar, mesmo com os fatos saltitando diante de seus olhos. Houve aquele episódio de Manaus, a crônica de uma morte anunciada, embora não devamos pôr Gabriel Garcia Márquez nessa história.
Sob as ordens de outro vidente, B.O.lsonaro, Pai Zuello previu que uma poção mágica tornaria dispensável essa absurda corrida atrás de vacinas. O que queriam era o fim da picada, mas profissionais com os miolos no lugar não lhes deram ouvidos.
É verdade que em dados momentos Pai Zuello teve suas premonições. Como no dia em que, num surto de realismo, encomendou a compra de 40 milhões de vacinas. Diante da reação de B.O., um clarão iluminou sua mente e ele tratou de cancelar o negócio rapidinho. O episódio entrou para a História como o inesquecível uns mandam, outros obedecem. E permanecem no cargo.
As vacinas, se tivessem sido compradas e aplicadas, duas doses por pessoa, teriam livrado da Covid 20 milhões de felizardos. Mas esse detalhe – o que é um detalhe? – certamente não foi considerado no episódio.
Por estes dias, Pai Zuello exibiu sua falta de máscara nos corredores de um shopping center de Manaus. Parecia muito descontraído. Brincou com o funcionário que o advertiu, pois não era permitido estar ali sem máscara. É possível imaginar o ex-ministro da Saúde passando por um café, seguindo em frente e entrando em uma farmácia.
O funcionário, atrás do balcão:
– Pois não?
O cliente:
– Uma dose de cloroquina.
Abril de 2021
A charge é de Fraga.